A comparação da dor
Marilia
Neustein
É impressionante um novo tipo de
comportamento que existe, principalmente online. Trata-se de tentar mandar na
dor do outro. Achar que você sabe o que dói mais, ou dói menos. Ou pior, o que
o outro deveria achar que dói mais ou menos. É muito triste. A linguagem da
internet é tão assustadoramente rápida que, às vezes nem dá tempo de você
curtir ou se chocar com algo. Porque imediatamente depois você é bombardeado
por críticas. Ou de crítica das críticas. Ou da autocritica das críticas.
Calma, gente! Deixem as pessoas se emocionarem. Não vale a pena colocarmos na
balança o que dói mais. As mães choram igual. A dor é universal. Quem perdeu um
filho em Mariana ou em Paris. Todo mundo pode analisar, culpar, apontar o dedo,
querer convencer os outros de que um é menor do que o outro. Mas não adianta.
Dói.
Estamos tão desumanizados que é
bom lembrar que as notícias falam de pessoas. De gente que saiu para comer um
rango, tomou um tiro na cabeça e não voltou para casa. De famílias que estão em
estado de choque e de um país inteiro que está aterrorizado, sem poder ir à
feira, sem pegar o metrô ou comprar remédio na farmácia porque está com medo de
morrer. Ou de gente que perdeu tudo e tem, diante de si, um rio de cimento, sem
nenhuma esperança de vida pela frente. Diante dessas situações não cabem
comparações. Desculpem-me os críticos, mas acredito ser de uma crueldade sem
tamanho colocar qualquer tragédia em uma balança de dor. Isso não se faz.
A dor tem a ver com a
subjetividade de cada um. O atentado da França pode mexer com o seu vizinho
mais do que com você. Isso não faz do seu vizinho um desesperado e nem de você
um insensível. Apenas, cada um – com a sua história, motivos, idiossincrasias
e carga emotiva — se emociona com coisas diferentes. Se choca com
coisas diferentes. Com vídeos e matérias que mostram torcedores de futebol que
espancam os outros com tacos, pedaços de madeira e afins, por exemplo. Cenas de
barbárie, história de terror. Policiais matando a esmo. Cenas de guerra. De
desastres. Nada disso é incomum no Brasil. Isso quer dizer que as pessoas não
se chocam? Não. Muitas se chocam. Outras ficam paralisadas. Não dá pra saber.
Cada um sente de um jeito, e infeliz de quem quer mudar o jeito como o outro
sente as coisas. É brincar com sentimento e querer controlar o que é
incontrolável.
Por essas e outras, na internet,
nunca foi tão necessário pedir um minuto de silêncio. Por Mariana, pela França,
por Osasco e pela lista pessoal que cada um queira adicionar…
(Vida e Estilo)
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