Promotora de Justiça Belize Câmara |
O Dia Internacional da Mulher nada mais é que um dia para
lembrar, de forma mais marcante, a opressão de todos os dias, a que estão
sujeitas todas as mulheres, pelo simples fato de serem mulheres.
Não é um dia para se comemorar, mas para se refletir. É um dia
para se lembrar, para se denunciar e alardear todas essas situações cotidianas
que o machismo nosso de cada dia já transformou em banais, embora nossa
hipocrisia até nos leve a expressar, aqui e ali, nosso aparente horror por tais
práticas. Horror que se autêntico fosse, já teria contribuído muito mais para o
alijamento de tantas manifestações injustificáveis de machismo, chauvinismo e
sexismo que testemunhamos por aí e em todo lugar e a cada momento.
Sem dúvida que a opressão praticada contra a mulher se
acentua quando se trata de mulher pobre. Acentua-se mais ainda se essa mulher,
além de pobre ainda é negra. Se a mulher for negra, pobre e homossexual ninguém
duvide de que essa mulher terá adquirido uma espécie de PhD de oprimida,
concedido pela vida, tal o nível de discriminações e ataques machistas e
racistas a que terá se submetido ao longo de sua existência.
Quem disso duvidar basta ler o que o mais novo escolhido
para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, o pastor evangélico
Marcos Feliciano, disse de homossexuais e negros para ter uma ideia. Ora, se
uma figura pública, um deputado, líder religioso, tem o descaramento, a ousadia,
o desrespeito de chamar negros de descendentes de pessoas amaldiçoadas por Noé
e de tachar a homossexualidade como prática responsável por guerras e pelo
ódio, sem falar na declaração sobre a AIDS, que cunhou como “câncer gay” e
ainda assim ser conduzido à presidência de uma comissão que, tem por dever,
justamente, o combate a todo tipo de opressão e ofensa aos direitos humanos,
significa dizer que nesse quesito, somos mesmo a “vanguarda do atraso”, como
diria o finado ex-ministro Fernando Lyra.
Dito isto e estando mais que certo que hoje não é um dia de
comemorações, festejos e coisas do tipo, mas de protestos e homenagens às
mulheres guerreiras que não se rendem, não se renderam, nem se renderão
jamais, não poderia deixar de utilizar a
data para homenagear uma mulher em especial, que nesse momento representa a
resistência de todo um Estado, liderada por sua capital, Recife, a cidade
lendária de Capiba, que em versos deixou-nos a lição de que “numa mulher não se
bate nem com uma flor”, contra a opressão de uma ditadura oficiosa, mas que
sorrateiramente se assenhoreou de todas as instituições do Estado, a ponto de
deixar o povo órfão dessas instituições e a ponto de, como bem colocou a
professora Liana Cirne, forçar o povo a defender, nas ruas, essas instituições delas
mesmas.
Falo, evidentemente, da promotora de Justiça Belize Câmara
que hoje representa o Ministério Público que o povo de Pernambuco quer, por
incorpor a essência de há muito esquecida e perdida por essa instituição.
Belize Câmara merece todas as homenagens no Dia Internacional da Mulher não só
por ser mulher, o que em si já trás toda uma carga de preconceitos machistas
que certamente teve de enfrentar para chegar aonde chegou e ainda assim
chegou, mas acima de tudo por representar os anseios de um povo que não suporta
mais a opressão de governantes e instituições cooptadas por esses mesmos governantes
e seus projetos pessoais de poder, patrocinados por aqueles que privatizam a
cidade, o Estado, o país e até nossas consciências com suas mentiras e
factoides tão insistentemente repetidos que acabam se tornando verdade em
nossas mentes.
Fomos às ruas e iremos novamente, quantas vezes forem necessárias.
Faremos petições públicas exigindo a preservação de nossos direitos e a
expulsão de quem não nos representa e de quem desonra o Ministério Público, o
Judiciário, o Legislativo, o Executivo, enfim, o interesse público. Não faremos
isso pela pessoa Belize, mas pelo que hoje ela representa e hoje ela nos
representa, portanto, faremos isso por nós mesmos!
* Noelia Brito é advogada, procuradora do Município e cidadã do Recife
* Noelia Brito é advogada, procuradora do Município e cidadã do Recife
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