segunda-feira, 31 de março de 2014

Copiando

Olha o nível

"Há quem diga que é um provérbio chinês; há quem atribua a frase a Platão. Usemos a fórmula de Millôr Fernandes, um gênio em tudo que se propôs a fazer: “Confúcio disse”. E que é que disse Confúcio? “Pessoas inteligentes discutem ideias, pessoas comuns comentam fatos, pessoas mesquinhas criticam pessoas.”
E o que mais se vê hoje no material de opinião, tanto de jornalistas como do público, é o culto ao ataque pessoal. Fulana de Tal só prevê acontecimentos desagradáveis para criar um clima político-econômico ruim, Beltrano se vendeu e passou da esquerda à direita, Sicrano é coxinha. Chamar alguém de kiwi, peludo por fora e fruta por dentro, passou a ser politicamente incorreto; mas basta duvidar da lisura das eleições norte-coreanas, em que o ditador de plantão teve 100% dos votos, para se transformar em fascista, ultradireitista, seguidor da Ku Klux Klan e viúva dos militares torturadores. Quem fica indignado ao descobrir que a Rede Globo não ocupará o tempo inteiro do Jornal Nacional para denunciar a compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras conclui automaticamente que o governo, além de censurar o noticiário, pressiona a empresa ameaçando retirar suas verbas de publicidade.
Conforme o caso, a situação fica engraçada: as duas faces de um mesmo fenômeno, a estiagem que ameaça deixar parte do país sem água e criar problemas no fornecimento de energia elétrica, passa a ser um fenômeno benfazejo ao prejudicar um partido e, ao mesmo tempo, maléfico por prejudicar o partido adversário.
Raciocínio, zero. Este colunista defende uma profunda reforma no sistema penal, reservando a pena de prisão para quem ofereça risco físico, e impondo a outros condenados tipos diferentes de pena, que passem pela proibição de exercer funções que lhes permitiriam reincidir nos crimes, pelo pagamento de multas, por restrições que podem ser muito severas mas que não exijam encarceramento. O embasamento da tese é, de um lado, econômico: o país não tem condições de construir presídios em quantidade suficiente para os condenados, nem tem recursos de garantir sua manutenção em boas condições; e, de outro lado, pragmático, já que parece claro que a prisão pouco contribui para recuperar e ressocializar os condenados. Claro que uma reforma ampla exigiria estudos que reunissem grandes especialistas. Enfim, caiu uma tempestade sobre o colunista – não pela tese realmente defendida, mas pelo que os críticos imaginaram que deveria ser. E vinham então questionamentos certamente pouco inspirados, do tipo “leve um traficante para sua casa”."
 (Carlos Brickmann Observatório da Imprensa)


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