Berzoini: o avesso, do avesso, do avesso, do avesso é o novo
articulador
Novo articulador, Berzoini é o avesso de Dilma
De Josias de Souza
Escolhido como novo articulador político do Palácio do
Planalto, o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) será um ministro inusitado. Em
matéria de relacionamento com o Congresso, ele cultiva pensamentos opostos aos
de sua nova chefe. Nesse campo, Dilma é o fósforo. E Berzoini tem pretensões de
ser extintor. Para que a coisa funcionasse, Dilma teria de ser bem menos Dilma.
Há dez dias, num instante em que o Planalto media forças com
o PMDB da Câmara, Berzoini foi à trincheira do pseudoinimigo. Junto com um
grupo de petistas, jantou na casa do presidente da Câmara, Henrique Eduardo
Alves. Lá estavam o vice-presidente Michel Temer e o líder Eduardo Cunha, que
Dilma prometera “isolar”.
Entre goles de vinho, Berzoini fez críticas ao governo. Desqualificou
a estratégia de isolamento do líder do PMDB. Elogiou o desafeto de Dilma.
Declarou-se a favor do respeito aos aliados. Estava acompanhado de outros sete
petistas. Entre eles o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PR); o
ex-presidente da Casa, Marco Maia (RS); e o ex-líder do governo Lula, Cândido
Vaccarezza (SP).
Além de estender a mão para a caciquia do PMDB, os petistas
avalizaram a decisão de Henrique Alves de adiar, contra a vontade do governo, a
votação do Marco Civil da Internet. Respaldado, o presidente da Câmara fincou o
pé, o governo negociou e, quatro dias depois, o texto foi aprovado por
consenso.
Horas antes desse jantar em que petistas e peemedebistas
estreitaram a inimizade, os convivas de Henrique Alves haviam se encontrado com
Ideli Salvatti, a correligionária que Berzoini irá substituir na pasta das
Relações Institucionais a partir de terça-feira. Ideli queria debater a
conjuntura e pedir ajuda para votar o Marco Civil da Internet naquele dia,
mesmo que na marra. O PMDB de Eduardo Cunha ameaçava obstruir a sessão.
A certa altura, Berzoini interveio na conversa para
manifestar certa perplexidade com os desacertos que abalaram a maioria folgada
que o governo tinha na Câmara. Ele disse que, no Carnaval, vira Rui Falcão, o
presidente nacional do PT, “puxar a faca” para o PMDB. Ele insinuara que
Eduardo Cunha chantageava o governo para obter mais ministérios. Berzoini disse
ter estranhado.
Na sequência, Berzoini reparou que Dilma e o Planalto
marcharam sobre o PMDB. Disse que uniu os dois pontos. Imaginou-se diante de
“uma reta”. Depois, leu nos jornais ataques duros do líder do PT, Vicentinho,
contra o PMDB. Supondo que a reta conduzisse a uma estratégia, tocou o telefone
para Vicentinho. Que estratégia é essa?, perguntou. E Vicentinho: não sei, vi o
Rui Falcão falando e resolvi falar também.
O deputado contou que telefonou para Falcão. Repetiu a
pergunta que fizera a Vicentinho. E o presidente do PT lhe informou que não
havia nenhuma estratégia pré-concebida. A conclusão de Berzoini arrancou risos
dos petistas que rodeavam Ideli: percebi que não havia uma tática, era loucura
pura.
Decorridos dez dias, Berzoini, ex-presidente do PT na época
do escândalo dos aloprados, foi confirmado por Dilma, nesta sexta-feira (28),
como novo gerente do hospício. Vai ao posto com o aval de Rui Falcão e, mais
importante, de Lula. Além do desafio de conviver com Dilma, terá de dividir
poderes com o companheiro Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil. Se der
certo, Berzoini pode ficar milionário dando palestras para explicar como
conseguiu desfritar um ovo.
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