Com chantagem política, Renan amplia crise e mira Dilma
Planalto erra ao apostar em alívio com lista de Janot
Blog do Kennedy
Postado por: DANIELA MARTINS
A “lista de Janot” não trouxe o alívio político esperado pelo governo Dilma. Pelo contrário, ampliou a crise. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), retaliou para tentar salvar a própria pele, numa chantagem política que cobra da presidente da República um poder que ela não tem: interferir no trabalho do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Renan devolveu ontem a chamada MP da Desoneração, a medida provisória que aumenta a carga tributária das empresas. O recado foi simples: se a presidente acha que poderá escapar de danos do escândalo Lava Jato, transferindo parte do desgaste para o Congresso, ele vai reforçar a oposição ao governo.
Os oposicionistas têm interesse em enfraquecer Dilma e minar a eventual candidatura do ex-presidente Lula ao Planalto em 2018. Daí o entusiasmado apoio a Renan, aplaudido quando devolveu a MP.
A entrega ontem da lista do procurador-geral ao STF (Supremo Tribunal Federal), com pedidos de abertura de inquérito sobre acusados na Lava Jato, fez com que Renan reagisse de uma forma que o afastou do Palácio do Planalto. O senador já estava contrariado com o governo por outras questões, como poder sobre o Ministério do Turismo e relação ruim com o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil).
De acordo com informações de bastidor, a lista enviada por Janot ao Supremo tem 28 pedidos de inquérito, envolvendo 54 nomes. Renan e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), estariam na lista.
Para medir a dimensão exata do efeito político, será preciso esperar a divulgação oficial dos nomes. Pedidos de abertura de inquérito significam que o procurador-geral da República quer investigar mais. Nesse sentido, Janot vê fragilidade no trabalho feito pelo juiz Sérgio Moro e os investigadores em Curitiba e avalia como necessário ter mais material para solicitar abertura de processos.
A partir de agora, os nomes da lista serão mais investigados e poderão responder a uma futura ação penal. Todos têm direito de defesa e não podem ser considerados culpados. Mas o aperitivo da lista que já vazou mostra potencial de agravamento da crise do ponto de vista político.
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Difícil, desafio é manter apoio do PMDB
A reação do Renan e eventuais atitudes duras futuras de outros citados na lista têm de ser vistas como tentativas de salvar a própria pele usando o poder que possuem em suas mãos. É uma chantagem política, um abuso até.
Dilma não controla o procurador-geral da República nem o Supremo Tribunal Federal. A Polícia Federal tem agido com liberdade. O próprio senador Renan falou em independência de poderes ao rejeitar a MP da Desoneração. Por essa independência, Dilma não teria o que fazer em relação a Janot e ao STF.
No entanto, o governo errou ao estimular o discurso de que a lista de Janot daria um alívio a Dilma porque dividiria a crise com o Congresso. Está bem claro que será difícil separar a atitude de políticos com posições de mando no Legislativo do cotidiano administrativo do país. E isso pode ter efeito ruim sobre a economia.
Cresceu a dificuldade para o governo aprovar medidas econômicas no Congresso. Essas medidas são fundamentais para a presidente corrigir erros do primeiro mandato e sonhar com a recuperação de alguma popularidade.
A presidente assinou ontem mesmo um projeto de lei com urgência urgentíssima repetindo o teor da MP da Desoneração. Mas isso não mudou um milímetro a resistência ao conteúdo da matéria.
Será um desafio para a presidente manter o apoio do PMDB num ambiente em que caciques peemedebistas estarão numa frigideira política. Mas ela não tem alternativa, sob pena de aumentar seu isolamento político.
Um fator importante será medir como a oposição será atingida pela lista de Janot quando os nomes se tornarem públicos. É preciso saber exatamente quem são os 54 da lista para aferir como a oposição vai aparecer no escândalo da Lava Jato. Ainda faltam peças para completar o quebra-cabeça.
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