Cid Gomes chama Eduardo Cunha de “achacador”, perde o cargo, e leva Congresso para o centro da crise
Do Portal Forum
por Rodrigo Vianna
Dilma escolheu hoje o seu Ulysses
Guimarães. Ele se chama Eduardo Cunha.
Para os mais novos: no governo Sarney, um
presidente fraco virou refém das artimanhas e manobras do político mais
habilidoso do Congresso, não à toa chamado de “Dr” Ulysses.
Dilma, hoje, deixou às claras quem manda
no governo.
O ministro Cid Gomes foi ao Congresso
preparado para o confronto. Preparado, talvez, para sair do governo “por cima”.
Dias antes, disse que o Congresso estava cheio de “achacadores”. Foi chamado
para dar explicações, num clima de intimidação institucional comandado por
Cunha.
Cid disse o óbvio aos
parlamentares: “partidos de oposição têm o dever de fazer oposição.
Partidos de situação têm o dever de ser situação ou então larguem o osso, saiam
do governo”.
A frase alterou ainda mais os ânimos. Cid
foi chamado de mal-educado. E devolveu, apontando para Cunha: “prefiro ser
acusado por ele de mal-educado do que ser acusado como ele de achaque”.
Ok. O gesto de Cid pode ter carregado
algo de oportunismo, num momento tão duro para o governo. Mas ao menos deixa
tudo às claras. Ele botou o guizo no gato. Qual a causa da corrupção na
política? Dilma e o PT ou os “achacadores”?
Cid cumpriu um papel didático, e Cunha
“Underwood” Cunha usou o Plenário como se fosse sua casa cercada de seguranças
no Alto da Gávea (pelo menos era lá que ele morava em 2001, quando fui
recepcionado por um capanga de revólver na cintura, ao tentar entregar um
envelope para a mulher dele, Claudia Cruz – colega jornalista).
Eduardo Cunha não é Ulysses. É doutor só
na truculência.
Cid saiu de plenário com dignidade. Ao
cravar o “achacador” na cara de Cunha, levou o Congresso para o centro da
crise. O DataFolha, que mostrou a queda de popularidade de Dilma, indicou
também que só 9% aprovam a atuação dos parlamentares.
Contestada nas ruas por setores golpistas,
Dilma entrega seu governo ao PMDB de Cunha. O presidente da Câmara, sentado em
sua cadeira, foi quem anunciou a demissão de Cid Gomes.
A pancadaria verbal de hoje pode arrastar
não só Dilma, mas o Parlamento e as instituições políticas para o contro da
crise.
Parece não haver volta no caminho
escolhido por Dilma. O programa do segundo turno não será retomado. O PMDB,
chefiado por um deputado chamado de “achacador” na tribuna, é quem garante “governabilidade”.
Isso não vai dar certo.
A esquerda e os movimentos sociais,
parece-me, devem seguir enfrentando os golpistas e rechaçando qualquer
tentativa de mudar – na marra e no grito – o resultado eleitoral de 2014. Além
do mais, devem enfrentar a horrorosa pauta que brotou do asfalto de Copacabana
e da avenida Paulista nesse dia 15.
Mas, ao mesmo tempo, está claro que é cada
vez mais improvável se construir uma saída sob comando desse governo –
sequestrado por Cunha e tomado pela letargia.
A saída não é, nem de longe, trabalhar
contra o governo Dilma. Mas para além do governo.
Uma Reforma Política que brote da força
das ruas é a única saída pela esquerda. Há força pra isso?
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