domingo, 1 de março de 2015

Fortaleza já não é a mesma

Perder um pai, uma mãe, é doloroso, só sabe quem perdeu. Perder uma filha, um filho, é mais doloroso ainda, só sabe quem perdeu. Ter um câncer, é doloroso, só sabe quem já teve. E eu já passei por todas essas experiências e sobrevivi. Machucada, é claro! Mas, com a força Divina, continuei a vida e gosto dela, da vida.
Bom, aí vocês podem estar pensando: Onde ela quer chegar? Será que está querendo que tenhamos peninha dela? Não gente, não é isso, pois espero que nunca tenham dois sentimentos por mim: pena e desprezo, são terríveis. É que quando você pensa que já passou por todas as mazelas da vida, de repente acontece algo que mais uma vez mostra como tudo é efêmero, inclusive, a própria vida e a partir daí, sua fé no próximo começa a desmoronar.
Vivemos na 2ª mais violenta capital do país e a 7ª do mundo!
Vou tentar contar da maneira mais simples possível o dantesco episódio ocorrido comigo na última quinta-feira (26), quando passei por mais um episódio sinistro em minha já longa existência:
Estava indo pra casa, eram 12h30min (hora de almoço, horário de pico) quando estava parada no sinal da rua Dr. José Lino com a rua Manoel Jesuino, na Varjota, fui surpreendida por dois elementos que bateram com força no vidro de minha caminhoneta com o cano de um revolver e ordenaram que eu abrisse o vidro. A pancada foi tão forte que pensei tratar-se de uma pedra. Mas não, era um revolver mesmo. Olhei pro lado e fiquei sem ação. Eram dois assaltantes, ordenando que eu abrisse o vidro do carro. Assim, calmamente (não me perguntem de onde tirei a calma porque não sei), o fiz e, na mira daquela arma, sob os olhares de dezenas de pessoas que se aglomeravam nas calçadas a olhar estáticos, como se estivessem assistindo uma cena de teatro dos absurdos, entreguei todos os meus pertences e quedei-me à minha própria impotência sabendo que estava a um passo da morte sem que ninguém se atrevesse a vir em meu socorro.
Bem, não foi assim tão simples, tipo – passa a bolsa – não. Primeiro mandaram eu passar o celular e a carteira do dinheiro. Abri calmamente a bolsa que estava ao meu lado e tirei um dos celulares, quando fui tirar a carteira, o outro ordenou: “Passa tudo, passa tudo e não olha pra nois”. Simplesmente, peguei a bolsa e passei para os assaltantes, não sei dizer mais o que aconteceu. Só sei que eles desapareceram das minhas vistas, e olhando para aquela multidão silente, acelerei e parti desorientada, sem saber o que fazer, “sem lenço e sem documentos”. Até a chave do apartamento haviam levado. Um quarteirão depois, passado a incredulidade, minhas pernas começaram a tremer, meu corpo também.
Tive que parar, respirar fundo e tentar entender o que acontecera. Foi aí que notei que estava em estado de choque. Afinal de contas, quase perdera a vida, era só ter esboçado qualquer reação. Senti-me pequenina, impotente, e tive pena de mim, tão pequena, tão sem importância, inútil, imprestável e insignificantemente mofina. Mas, tinha que tomar uma atitude, ir à luta, seguir com a vida. Foi quando liguei o carro novamente e, pra completar, ele (o carro), deu sinal de que estava na reserva do combustível. Precisava urgentemente abastecer. Mas como, se estava sem dinheiro, sem cartões e sem documentos? E agora, fazer o quê? Pedir socorro a quem? O pavor tomou conta de mim. Senti-me só e completamente desprevenida. Primeira providência ir aos bancos cancelar os cartões, em seguida, à delegacia mais próxima fazer o BO, procurar um chaveiro para providenciar nova chave (troca de fechadura), para poder entrar no apartamento, etc, etc e tal.
Quando tudo estava aparentemente resolvido eram 18h30min. O chaveiro foi embora e fui tomar um longo banho pra tentar relaxar, não relaxei, a agitação tomou conta de mim, estava completamente acelerada, incrível. Comprei chips para colocar em celulares encostados para emergências, só não pensei que fosse desse tipo. Precisava ligar pra minha filha que mora no Recife, pra avisar dos celulares, fiquei preocupada em eles, os assaltantes, passarem algum trote pra ela. Em seguida tentei assistir TV pra ver se relaxava. Que nada! Não consegui ligar, troquei a TV da sala pela do meu quarto, nem notei o peso, não consegui ligar nenhuma.
Estava tudo bagunçado, minha vida, minha cabeça, meus nervos. Respirei fundo, o interfone tocou. Era um amigo me chamando para desopilar, tomar uma cervejinha para relaxar. Fui, tomei as tais cervejas, até dei boas gargalhadas, voltei pra casa, tentei dormir mas o sono só chegou lá pela madrugada. Tirei alguns cochilos, dormir mesmo não consegui, os olhos teimavam em ficar arregalados. Amanheceu, senti-me toda dolorida, parecia que eu havia levado uma grande surra, tive uma “fininha” de fazer inveja ao lactopurga. Mas, mesmo assim, tinha que ir á luta. Fui ao shopping, providenciar um novo óculos de grau (ainda bem que a receita estava em casa), e religar os celulares, só consegui um, o da OI, o da TIM ficou para segunda-feira. Ah! E a “fininha” durou de sexta à sábado. Fiquei na maior fraqueza, numa demonstração que a cabeça pode tentar ficar numa boa mas o corpo padece.
Bem, infelizmente, a verdade é que diariamente, dezenas de pessoas passam pelo que passei e até por situações mais violentas. Que Deus ilumine os caminhos das vitimas que conseguem sobreviver como eu e se apiede da alma daquelas que têm suas vidas ceifadas.
Resumo: Minha Fortaleza maravilhosamente bela está chorando tanto quanto eu pelo descaso das autoridades com a questão da violência urbana e pelo medo das pessoas em tomarem uma atitude para defender o próximo, porque estão preservando suas próprias defesas, suas próprias vidas. Isto é Fortaleza hoje, o cidadão de bem desarmado e à mercê dos assaltantes que a cada dia se armam para tomar o fruto do nosso trabalho e ceifar nossas vidas e a vida dos trabalhadores e seus familiares. Mas isso já é assunto para uma próxima oportunidade, aguardem.
Enquanto isso, com susto ou sem susto, com medo ou sem medo, graças a Deus, a vida continua e sou grata a Ele (Deus) por não ter acontecido o pior. Estou viiiiiiiiiiiva!!!

Um comentário:

  1. Fui assaltada exatamente no mesmo lugar quinta feira passada.
    Quebraram o vidro do meu carro a pedradas, me machucaram, estava com um bb de 1 ano e meio na cadeirinha atrás do meu banco, que por Deus não foi atingida.
    Levaram bolsa e celular, mas a policia chegou em seguida, recuperou o que levaram e pegaram 2...
    Sabe o q aconteceu?
    Fomos ao DCA (eram menores), fiz o reconhecimento, dei meu depoimento e recebi uma guia pra fazer o exame de corpo de delito no IML...
    Depois ainda fui pro hospital e levei 4 pontos no braço...
    Eles ficaram na DCA esperando os "responsáveis" irem buscar e com certeza chegaram em casa mais cedo do que eu...

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