sábado, 12 de abril de 2014

CHOVE

Debruçada sobre o parapeito de minha varanda vejo a chuva cair e sinto os grossos pingos d’agua molharem todo o meu corpo. E um vento leve faz a água se espalhar por todo o terraço. Olho ao longe e do alto do meu apartamento vejo as árvores balançarem indolentemente. O vento assobia, as nuvens se deslocam mansamente, o Céu escurece. E exclamo para mim mesma: Será o inverno anunciando sua chegada! A chuva aos poucos vai se esvaindo e penso: Os sentimentos mais leves as vezes são os mais fortes, os gestos mais simples as vezes dizem tudo e nem a água da chuva, nem o sopro forte do vento conseguem levar. Entro e dou de cara com o “Poemas Sujos”, de Ferreira Gullar, que está ali, na minha mesa de centro, como a olhar pra mim. Pego o livro e fico folheando displicentemente. Grande obra, escrita na década de 70, ainda naqueles anos de chumbo e que bem retrata o sujo inserido na miséria, na fome, na imoral divisão das classes sociais. Paro de pensar sobre isso, conheço minhas limitações, não tenho cacife literário para falar sobre obra tão gigantesca. Solto “Ferreira Gullar”, volto à varanda e olho minha cidade até onde a vista pode alcançar e penso: Como eu amo essa minha Fortaleza, essa fortaleza de Iracema, a Iracema de José de Alencar! Noto que parou de chover. É, mas o tempo ainda está fechado. O sábado promete.

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