Por Noelia Brito*
Ontem, finalmente, a ex-ministra Marina Silva confirmou que será candidata a vice, na chapa de Eduardo Campos, que pretende concorrer à sucessão de Dilma Rousseff, nas próximas eleições. Será, portanto, uma chapa puro-sangue, já que Marina, assim como Eduardo, é filiada formalmente ao PSB, uma vez que seu partido, o Rede Sustentabilidade não é legalizado. Nenhum tempo de rádio e TV, portanto, será acrescido ao exíguo tempo de que disporá o presidenciável Eduardo Campos para se fazer conhecido fora de Pernambuco advindo da união Eduardo/Marina.
Aliás, o resultado da última pesquisa sobre a preferência do eleitorado pernambucano, para a sucessão da presidenta Dilma, eleitorado este que conhece muito bem Eduardo Campos, pois o teve como governador por longos sete anos e três meses, é para deixar o ex-governador e seus marqueteiros, com uma pulga atrás da orelha.
Num momento em que as pesquisas nacionais chegam a apontar uma queda na popularidade da presidenta, em Pernambuco, o ex-governador não consegue sequer descolar da concorrente, contra quem tem batido forte nos últimos dias, apesar de poupar o ex-presidente Lula de seus ataques, mesmo sendo Lula o principal cabo eleitoral de Dilma e o inventor de sua primeira candidatura.
Os números da pesquisa divulgada no último final de semana, pelo Instituto Maurício de Nassau, deixam claro que tanto na pesquisa espontânea, quanto na estimulada, Eduardo Campos está empatado tecnicamente com Dilma, em Pernambuco, quando seria de se esperar que pelo menos em seu Estado natal, onde tem promovido intensa campanha rumo ao Planalto, há mais de uma ano, com o apoio massivo de lideranças políticas até de partidos que compõem a base de sustentação do governo Dilma no Congresso, ele já apresentasse folgada dianteira.
Se em Pernambuco, onde só quem fez campanha até agora foi o presidenciável Eduardo Campos, a situação é essa, o que se pode esperar de sua performance no restante do país, que sequer o conhece e onde, entre os que o conhecem, tem aparecido com elevada rejeição, ainda segundo as pesquisas de opinião que tanto pautam os passos de Eduardo?
Com a chapa puro-sangue, Eduardo não terá muito tempo para se mostrar ao restante do país. Além disso, nem nos estados governados pelo partido que herdou do avô, Eduardo terá palanque. Segundo matéria publicada ontem, no Portal do Valor Econômico, nada menos que três governadores do PSB faltaram ao lançamento da chapa Campos/Marina e isso sem contar com a ausência do governador de Pernambuco, o neossocialista João Lyra, que preferiu acompanhar a visita de Dilma a Pernambuco. Acrescente-se a isso o fato de que Lyra não poupou elogios e agradecimentos a Dilma por tudo que esta, juntamente com Lula, promoveram em prol dos pernambucanos, em termos de investimentos, geração de empregos, etc. Palavras de João Lyra, atual governador de Pernambuco, pelo PSB.
Segundo o Valor, os governadores Camilo Capiberibe, do Amapá e Renato Casagrande, do Espírito Santo, que têm vices do PT, não estão dispostos a colocar em risco suas reeleições, em prol no projeto pessoal de Eduardo Campos de ser presidente da República.
Quem também faltou ao lançamento da candidatura de Eduardo à presidência foi Wilson Martins, que deixou o governo do Piauí há poucos dias para concorrer ao Senado. Wilson Martins sempre foi um dos governadores do PSB que mantém as melhores relações com a presidenta, aliás, na recente visita que Dilma fez ao Piauí, em fevereiro, quando Martins ainda estava à frente do governo, este chegou a declarar, em entrevistas sua convicção de que Dilma jamais deixaria de lhe “dar a mão”, qualificando a visita de “um show”.
A ideia de que Marina, como candidata a vice de Eduardo, pode ser fator decisivo para levá-lo à vitória não encontra respaldo em experiências passadas, basta tomarmos por exemplo o ocorrido na eleição para prefeito do Recife, quando o ex-prefeito João Paulo, um conhecido campeão de votos, duas vezes prefeito, deputado federal dos mais votados e saído do governo com alta popularidade, foi colocado como vice do senador Humberto Costa, também numa chapa puro-sangue. O resultado todos sabemos. Naquele pleito, o PT, mesmo com João Paulo na vice, amargou um doloroso, porém, pedagógico terceiro lugar, chegando a perder até para Daniel Coelho, do PSDB.
A prova de que vice não agrega votos é ver que naquela eleição, João Paulo não fez a diferença, pois era apenas o vice, mas ao ser agora lançado candidato ao Senado contra o candidato de Eduardo, o ex-ministro Fernando Bezerra Coelho, o ex-prefeito do Recife já aparece disparado na preferência do eleitorado pernambucano, para ser o futuro senador de Pernambuco, tomando a vaga que pertence a outro aliado de Eduardo, o peemedebista Jarbas Vasconcelos. O que vice agrega é tempo do programa eleitoral quando é de outro partido e nem isso Marina poderá agregar a Eduardo, pois seu partido só existe na mente de seus sonháticos seguidores.
O pacto selado por Eduardo com Aécio, de seguirem juntos contra Dilma, também deve se romper nos próximos dias. É que o tiro está saindo pela culatra, pelo menos para o tucano. As pesquisas, sempre elas, também apontam para uma migração de votos de Aécio para Eduardo como resultado dos ataques deste contra Dilma. Assim, quando bate em Dilma, Eduardo agrada ao eleitorado do aliado tucano, que, naturalmente, já é anti-Dilma, por ser anti-PT, mas não consegue convencer indecisos ou eleitores pró-Dilma, a votarem nele ou a deixarem de votar na presidenta pelo simples fato de ouvirem Eduardo falar mal dela. Afinal, quem é Eduardo para falar mal de Dilma se até ontem era ele quem se rasgava em elogios à presidenta, a cada novo investimento que vinha para Pernambuco, principalmente por intermédio dos ministérios, cargos e mais cargos no governo Dilma que o partido de Eduardo detinha, governo este que agora Eduardo, por puro oportunismo eleitoreiro, chama de incompetente?
Eduardo pensa fazer política para as pedras e para as portas e não para seres pensantes. Com isso bem demonstra o quanto sua “nova política” está contaminada pelos ranços do mais obtuso coronelismo.
O filósofo Ortega Y Gasset cunhou a célebre frase segundo a qual “o homem é o homem e suas circunstâncias”. Mas para Eduardo as suas circunstância são única e exclusivamente o próprio Eduardo e o outono do patriarca está a cada dia mais próximo.
*Noelia Brito é advogada e procuradora do Município do Recife
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