Debate sobre aliança entra em nova fase
Depois de uma semana de muita expectativa e especulações
sobre a possível renúncia de Cid Gomes (Pros), o governador decidiu que fica
até o fim do mandato, que se encerra no dia 31 de dezembro deste ano.
O primeiro efeito prático da decisão é que tanto Cid quanto
o atual secretário da Saúde do Estado, Ciro Gomes, estão fora da disputa eleitoral
de outubro e, portanto, ficarão sem cargos públicos a partir de janeiro de
2015. De acordo com o calendário, sábado era o último dia para
desincompatibilização. Com a permanência, Ciro, por ser irmão do governador,
não poderá se candidatar.
Divulgação
A definição do governador foi divulgada na noite de
sexta-feira, pela página da rede social Facebook. Segundo disse, Cid recebeu
apelo de diversos amigos, partidos e lideranças políticas para considerar a
possibilidade de deixar o governo do Estado, de maneira a ensejar uma
candidatura do partido ao Senado Federal. “Pedi a Deus que me iluminasse e
procurei sentir o coração dos cearenses. Cheguei à conclusão de que minha
responsabilidade é permanecer no governo até o fim. Concluir a obra que
iniciei, aperfeiçoar as políticas públicas sob minha responsabilidade e,
fundamentalmente, entregar o estado do Ceará em boas mãos, me parece meu
dever”, afirmou na publicação.
Articulações
A partir disso, inicia uma nova fase nas articulações para
compor a chapa majoritária. Para Cid, a principal meta agora é organizar o
cenário a fim de eleger um sucessor de sua total confiança. De acordo com o
cientista político Francisco Moreira, a permanência de Cid no cargo fragiliza
toda a aliança, criando um problema com as legendas da base. “Quando ele não
sai e nem se define, acaba rompendo com os aliados”.
Todo o “bafafá” sobre a possível candidatura de Ciro, com
apoio do governador, gerou nos partidos aliados, como PT e PCdoB, o sentimento
de que poderiam ficar fora do páreo, sem vaga ao Senado. “Cid criou uma
situação extremamente difícil e complexa”. Segundo disse o cientista político,
apesar do desgaste, o grupo do PT ligado ao deputado federal José Guimarães
pode voltar a ganhar força em razão da desistência de candidatura do
ex-ministro.
Expectativa para o senado
Lembrando que os petistas, durante encontro da executiva
estadual do PT, aprovaram, no fim de março, a indicação Guimarães para disputar
a vaga ao Senado. De acordo com o deputado federal, a legenda tem conversado
com o Pros e o PMDB, mas ainda não houve definição. “As coisas estão bem
posicionadas. Se vai ter racha ou não, eu não sei, vamos esperar um pouco
mais”, refletiu Guimarães.
Em relação ao PCdoB, Francisco Moreira explica que o apoio
da legenda à candidatura de Roberto Cláudio na eleição municipal, objetivando
manter a aliança, não funcionou. “Deu errado, porque o senador Inácio Arruda
tem pequena chance de ser apoiado pelo Cid para a reeleição”.
O presidente estadual da legenda Luiz Carlos Paes informou
ao jornal O Estado que já esperava que Cid não renunciasse ao cargo. Segundo
disse, o PCdoB não foi informado oficialmente sobre a hipótese da saída para
que Ciro fosse candidato ao Senado. “Uma mudança desse tipo teria que ter sido
conversada e negociada há mais tempo. Isso surgiu de repente”.
A legenda manterá a posição de reivindicar a reeleição de
Inácio Arruda. De acordo com Paes, não ficou nenhum ressentimento. “Eu acho que
tanto o Ciro quanto o Cid são duas grandes lideranças políticas. Não ficou
ressentimento”, disse. O presidente do partido aproveitou para enfatizar que as
conversas com o Pros e com o PMDB serão mantidas. “Vamos continuar nos reunindo
tanto com o Cid quanto com o Eunício. Temos um bom relacionamento com o
senador, que nos procurou, e tivemos uma boa conversa”.
Nomes
Os possíveis indicados por Cid ao governo do Estado seriam o
vice-governador Domingos Filho, o presidente da Assembleia Legislativa, José
Albuquerque, o deputado Mauro Filho, o ex-ministro dos Portos, Leônidas
Cristino, e a ex-secretária da Educação, Izolda Cela.
Como, nos bastidores, comenta-se que todo o imbróglio a
respeito da decisão de Cid não renunciar surgiu da recusa do vice-governador
Domingos Filho em deixar o cargo, ainda não se sabe se Domingos estará na lista
dos pré-candidatos à sucessão estadual.
Há ainda a possibilidade de apoio à candidatura do senador
Eunício Oliveira (PMDB) à chefia do Palácio da Abolição. O peemedebista já faz
caminhadas pelo interior e reuniões com partidos a fim de articular sua
candidatura, mas ainda espera um posicionamento de Cid. “Permanecer no cargo
foi uma decisão pessoal do governador e em nada altera a posição que foi
colocada pelo PMDB, que é a vontade de ter uma candidatura própria ao governo
do Estado”, afirmou Eunício.
Sobre a possibilidade de ser traído pelos Ferreira Gomes,
Eunício disse que “não existe traição do lado do PMDB”, acrescentando que nunca
houve compromisso assumido pela legenda que não tivesse sido honrado. “Prefiro
ser traído do que ser traidor”, completou.
O que fazer?
A sugestão do cientista ouvido pelo O Estado para que Cid
fique “bem na fita” e evite mais desgastes é fazer um acordo com a presidente
Dilma Rousseff (PT), enfatizando que a prioridade da gestão é trabalhar para a
reeleição da petista. “Uma das saídas é ele tratar como ponto central a presidente,
sem se fechar apenas à disputa local. Seria como uma troca, ele se colocaria
como ponto importante no processo de reeleição, tendo, então, que receber algum
tipo de benefício nesse sentido”, explica Moreira, lembrando a mudança do
governador do PSB para o Pros, em nome de Dilma.
Francisco Moreira acrescenta que os possíveis nomes
indicados ao governo do Estado pelo Pros não vingaram. “Eu não vejo que as
articulações estejam sendo feitas para a viabilização das candidaturas dos
cinco nomes. Caso o governador opte por não apoiar Eunício, é bom lembrar que o
senador já ganhou autonomia suficiente para caminhar com as próprias pernas”,
ressaltou.
Apesar das especulações e conversas de bastidores, até
agora, nada se sabe oficialmente. As definições devem ser feitas apenas em
junho deste ano, no período das convenções partidárias.
Renúncia
A possibilidade de renúncia de Cid foi anunciada no dia 24
de março pelo próprio governador, durante reunião do secretariado no Palácio da
Abolição. “A hipótese de renunciar será colocada a um coletivo, não para
candidatura própria minha, mas para ter Ciro como alternativa de candidatura”,
disse na ocasião.
Domingos em baixa; Izolda e Leônidas em alta
No topo da prioridade, na lista do Pros com os possíveis
candidatos à sucessão de Cid Gomes, se as eleições fossem hoje, o
vice-governador Domingos Filho é o que aparece mais fora do páreo. Com o
episódio da renúncia, ficou evidente que os Ferreira Gomes não têm a confiança
necessária para apostar em Domingos. A declaração de Ciro, ao afirmar que o
governador não renunciou porque não poderia sair e deixar o governo nas mãos de
“aventureiros”, foi uma crítica direta ao vice e revelou o mal-estar entre eles.
Destaque
Em destaque, hoje, estão Izolda Cela e Leônidas Cristino.
Ele, pela relação de confiança com os Gomes. Ela, pelo resultado do trabalho
desenvolvido à frente da Educação do Estado.
Leônidas foi prefeito de Sobral e deu sequencia à gestão de
Cid Gomes por lá. Depois, acabou indicado pelo grupo de Cid para comandar a
Secretaria Especial dos Portos, estrutura do governo federal com status de
ministério. O aliado voltou a circular ao lado de Cid em eventos públicos.
Izolda carrega a marca de ter conquistado os resultados mais
importantes da gestão de Cid Gomes, numa das áreas consideradas prioritárias em
qualquer governo. Sob o comando dela, a Educação do Ceará virou modelo e teve
programas copiados pelo governo federal para todo o Brasil. Casada com o
prefeito de Sobral, Veveu Arruda (PT), Izolda migrou do PT para o Pros a
convite do próprio Cid Gomes.
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