segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Qualquer negócio para fazer render os votos do falecido

Hipótese de Renata Campos como vice de Marina é coisa de país na fase das capitanias hereditárias… É essa a “nova política”?

Confesso que cheguei a achar que era piada, mas , percebo agora, não é. Não! Pensa-se mesmo, a sério, em fazer de Renata Campos, a “Dona Renata”, candidata a vice na chapa que será encabeçada por Marina Silva. Dirigentes do PSB têm dito a interlocutores que será a seção de Pernambuco do partido a decidir a vaga — que terá de contar com a aprovação de Marina Silva.
Ai, ai, ai… Eduardo Campos e Marina Silva sempre ancoraram a sua postulação numa certa “nova política”. Mais de uma vez, indaguei aqui que novidade, afinal de contas, era essa. Marina, ainda que tenha tido uma origem pobre, de todos conhecida e bastante cantada em prosa, verso e subprodutos míticos, fez política tradicional segundo o roteiro petista: foi sindicalista, ajudou a fundar uma central de trabalhadores, ligou-se a movimentos sociais, disputou eleições… O que há de tão novo nisso?
Campos, então, era tradicional a mais não poder: neto de político, filho de políticos, vinha de uma tradição verdadeiramente fidalga, ainda que uma fidalguia com viés de esquerda. Por mais que “Dona Renata”, como Campos chamava a própria mulher, seja uma parceira de vida, uma militante política, essa militância nunca se tornou notória ou notável além do círculo doméstico. Seria candidata a vice de alguém que aparece em primeiro lugar numa simulação de segundo turno, ainda que possa ser uma situação transitória, por quê? Não faz sentido!
A menos que estejamos de volta a uma espécie de atualização da política das capitanias hereditárias, deem-me uma boa razão para que seja assim. Como capitania hereditária não é, parece-me que podemos estar diante de algo ainda pior: uma tentativa de fazer com que Campos, morto, possa render os votos que, infelizmente, ele não tinha quando vivo.
Sinceramente, acho tão estapafúrdia a saída que custo a acreditar que possa prosperar. Mas o simples fato de a hipótese estar sendo tratada a sério me parece constrangedora. O PSB tem até o dia 23 para definir a nova chapa. É certo que Marina, que é da Rede, vai estar na ponta. O que se espera é que seja alguém genuinamente do PSB a ocupar o lugar de vice, quando menos para que a candidata se lembre dos compromissos que Campos havia assumido.
Ora, querem Renata por quê? Para que se somem duas pessoas sem nenhuma experiência administrativa, mas com chances efetivas de vir a governar o país? Se querem saber, preocupa-me menos isso ser pensado nos círculos políticos de Pernambuco e do PSB do que a hipótese ser tratada pela crônica política como algo corriqueiro e aceitável.
Parece-me que boa parte dos políticos e da própria imprensa não está se dando conta das dificuldades por que passa — e passará o país em 2015. Há muita gente brincando com fogo. A projeção de crescimento para este ano voltou a ser rebaixada, agora para 0,79%. A do ano que vem está pouco acima de 1%. Fatores negativos tendem a convergir de forma ameaçadora. E pessoas supostamente responsáveis vêm falar em Renata Campos como candidata a vice de Marina, tendo como principal qualificação para tal desafio ter sido mulher de Eduardo Campos?
Nada contra esta senhora, que, a exemplo de quase 100% dos brasileiros, nem conheço. Mas tenho tudo contra os fundamentos que levam a essa hipótese. Seria bom ter um pouco mais de responsabilidade com os destinos do Brasil.
(Veja - Reinaldo Azevedo) 

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