Do DIARIO DE PERNAMBUCO
Plano para extorquir Prefeitura de Caruaru
O suposto esquema foi descoberto por interceptação telefônica autorizada pela Justiça
Mário Flávio
Especial para o Diario
Publicação: 31/01/2014 03:00
O suposto esquema foi descoberto por interceptação telefônica autorizada pela Justiça
Mário Flávio
Especial para o Diario
Publicação: 31/01/2014 03:00
Dois corrompidos, três corruptores e R$ 30 mil em propina pagos. Esse é o saldo das investigações que culminaram com a ordem para a prisão de cinco vereadores de Caruaru, na última quarta-feira. Um deles volta à cadeia pela terceira vez (Evandro Silva, PMDB), e outros quatro (Neto, PMN; Jadiel, Pros; Val, DEM; e Val das Rendeiras, Pros) pela segunda vez em 40 dias. As provas para as novas prisões, segundo a polícia, foram colhidas durante a Operação Ponto Final, no dia 18 de dezembro.
Os documentos que embasaram a decisão do juiz da 4ª Vara Criminal da cidade, Pierre Souto Maior, revelaram um suposto esquema de compra de votos por um grupo de vereadores para instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que teria a Prefeitura de Caruaru como alvo para, depois, tentar extorquir dinheiro do Executivo para que ela fosse encerrada.
O suposto esquema foi descoberto com base na interceptação de ligações telefônicas autorizadas pela Justiça, além de um depoimento dado pelo vereador Jadiel Nascimento (Pros), que, ao ser preso em dezembro, tentou negociar delação premiada. Para justificar o mérito, ele disse ter recebido R$ 30 mil para votar a favor da criação da CPI da CGU (Controladoria Geral da União). O alvo seriam as irregularidades na execução de programa pela prefeitura, apontadas pela CGU após fiscalização.
Os governistas corrompidos para votar a favor do projeto, segundo as investigações, teriam sido Jadiel e Val das Rendeiras, também do Pros. Os corruptores seriam Evandro (PMDB), Val (DEM) e Neto (PMN). De acordo com o descrito na decisão da Justiça, “Jadiel informou ter recebido a quantia de R$ 30 mil, sendo que R$ 15 mil lhe foram repassados pelo vereador Val de Cachoeira e outros R$ 15 mil por Neto, também vereador daquela Casa, os quais foram presos na Operação Ponto Final”. O vereador, em depoimento, também confirmou que Val das Rendeiras recebeu dinheiro.
Uma das gravações mostra uma conversa entre Jadiel e Val, quando o primeiro cobra os R$ 30 mil. Na conversa, Jadiel disse a Val que devia mais de R$ 60 mil, mas tinha urgência em apenas R$ 33 mil. Segundo as investigações, o vereador Jadiel fez jogo duplo por estar conversando ao mesmo tempo com os vereadores de oposição e com o secretário de Relações Institucionais de Caruaru, Marco Casé (PTB).
Outro vereador que confirmou à Polícia que teria sofrido tentativa de suborno foi Ranilson Enfermeiro (PTB). Segundo a investigação, ele não aceitou o dinheiro. No inquérito, o vereador Romildo Oscar (PTN) também foi assediado para receber dinheiro e assinar o relatório. O presidente da Câmara, Leonardo Chaves (PSD), o líder do governo na Casa e presidente da Comissão de Ética, Ricardo Liberato (PSC), e Edjailson da Caru Forró (PT do B), além do secretário Marco Casé, também confirmaram à polícia que os vereadores acusados teriam recebido dinheiro. Mas não houve nenhuma providência interna tomada pela Câmara.
Autor do requerimento que criou a CPI, Evandro Silva não é citado diretamente e apenas existem indícios de participação dele no caso, mas a polícia aponta o vereador como o cabeça do esquema para obter vantagens do Executivo. Val, Neto e Jadiel Nascimento continuam foragidos.
Saiba mais
Trechos de depoimentos de Jadiel à polícia
Ele fala sobre o BRT e cita os valores. O delegado pergunta
se ele recebeu dinheiro da CPI da CGU e ele diz que sim
Jadiel – “... Ao conversar conosco dessa última vez... aí eles disseram... para saber a respeito dessas... dessa BRT. Esse último projeto ele disse que conversasse para que os vereadores aprovassem. Em alguns momentos, eles foram variados. Os valores, entendeu? Na última conversa que eles teriam tido... Que alguns vereadores sugeriram questão de 50 mil (reais), 100 mil (reais), essas coisas... Mas não havia possibilidade do prefeito viabilizar essas coisas. Não seria por esse lado que ele ia atender, contemplar as pessoas.
Polícia – Você tomou conhecimento de que algum vereador recebeu dinheiro pra assinar o requerimento da CPI?
Jadiel – Pra assinar não. Mas que pegou em dinheiro, pegou.
Polícia – Quem pegou em dinheiro?
Jadiel – Eu.
Polícia - E quem mais?
Jadiel - Val das Rendeiras.
Trechos de interceptações telefônicas
feitas pela polícia autorizadas pela Justiça
Jadiel - O senhor ainda está com aqueles débitos?
Val - Os meninos iriam arrumar um dinheiro
Trecho da descrição do caso, contida na decisão do juiz
Jadiel - Quando essa CPI for instalada, o prefeito (José Queiroz, do PDT) chamará eles e quando o prefeito chamar eles, os meninos, e que vão conversar com o prefeito e o acordo que eles chegarem eles descontam o dinheiro que eles irão lhe emprestar
Obs: Na descrição, Jadiel também diz a Val que devia mais de R$ 60 mil, mas tinha urgência em apenas R$ 33 mil.
Trechos de escuta telefônica entre os vereadores Louro do Juá (DEM), Eduardo Cantarelli (SDD) e Jajá (Sem partido)
Jajá – Peraí, que Louro quer falar contigo.
Eduardo Cantarelli – Tá
Louro do Juá – Ô Duda
Eduardo Cantarelli – Oi
Louro do Juá – Bora almoçar, meu filho, pra gente conversar.
Eduardo Cantarelli – Eu não tenho não, Louro, como almoçar agora não. Eu tô terminando de resolver minhas coisas. Pra ir pra Recife deixar a documentação. Quando chegar eu ligo e a gente senta. O que você decidir, eu tô no meio.
Louro do Juá – Não, não é decidir nada. Aqui é: eu, você, Jajá e o resto... (palavrão). Não vai ter nada pra gente esse mês não... Conversei com Leonardo (Chaves)... Num tem jeito não, a gente vai comer papel. Votar e comer papel no Natal... (risos).
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