quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Presidente do TJ-CE: O cenário é pior do que a gente imagina"

Há mais culpados pelas mortes em sequência relacionadas à guerra do tráfico de drogas em Fortaleza. Além dos próprios executores, o poder público também é responsável pela situação, aponta o presidente do Tribunal de Justiça do Ceará (TJ-CE), Luís Gerardo Brígido. “Onde o poder público não está presente, o tráfico está. E faz o que o poder público não faz e que deveria estar fazendo”, afirmou, ao ser questionado sobre a morte da comerciante Maria Edileuza Ferreira, 57, assassinada com cinco tiros na cabeça, no último domingo, na calçada de casa, no Conjunto São Miguel.Presidente do Tribunal de Justiça do Ceará, Gerardo Brígido diz que mortes numa mesma família, por causa do tráfico, não são caso isolado. E que isso acontece porque o tráfico chega onde o poder público é ausente
O caso foi manchete de ontem do O POVO. Edileuza era mãe de Elineudo Ferreira Facundes, 25, também executado, em 2006, a tiros por causa da briga entre traficantes das comunidades Coqueirinho e Mangueira, da área do São Miguel. Outro filho foi executado há dez meses. No caso de Francileudo, a morte aconteceu na calçada da sede da Justiça - o Fórum Clóvis Beviláqua -em abril de 2013. Ele saía de um depoimento quando foi assassinado com 10 tiros.

Pela primeira vez, o presidente do TJ comentou o episódio da morte em frente ao Fórum: “A culpa é do próprio poder público, que deixou chegar a isso. (...) O Judiciário não dá uma resposta pronta, eficiente, e acontece isso”. E diz que mortes de membros de uma mesma família e em sequência na guerra do tráfico não são caso isolado. Veja a entrevista, concedida ontem em seu gabinete:
 O POVO - Como o senhor vê esse episódio em que três de uma mesma família foram mortos na guerra do tráfico no Conjunto São Miguel? Na verdade, já são pelo menos 60 mortes dentro de uma mesma área.
Gerardo Brígido - Isso já é caso recorrente. Já houveram outros assim também, de uma família toda morta pelo tráfico. Não é caso isolado nem foi o primeiro.

OP - E para resolver uma situação como essa, o que deve ser feito?
Brígido - Onde o poder público não está presente, o tráfico está. E faz o que o poder público não faz e que deveria estar fazendo. A gente tem que partir para ocupar esse vazio.

OP - Quando o senhor diz poder público, aponta quem?
Brígido - É tudo. Executivo, Judiciário...

OP - Como mudar?
Brígido - Educação, incentivar a prática de esportes para o adolescente na periferia, cuidar...
 OP - E numa ação emergencial?

Brígido - Não existe. Tem que ser a longo prazo. Se disser que resolve isso da noite para o dia, não resolve. Está uma matança do tráfico aqui que a própria imprensa ainda não captou.

OP - O cenário é muito pior do que o que está sendo mostrado?
Brígido - É pior do que a gente imagina. Isso (da morte da mãe e dos dois filhos pelo tráfico no Conjunto São Miguel) é só o que chega ao nosso conhecimento.

OP - De 2002 para cá, se foram 60 mortes só numa área, dá para deduzir que faltou ação e investigação. Presença do Estado, da Polícia, da Justiça...
Brígido - Há inúmeros casos que não foram ainda desvendados, não foram apurados e que não chegaram à Justiça.

OP - Um dos filhos desta mulher morta no domingo foi executado em frente ao Fórum Clóvis Beviláqua, em abril do ano passado. Esse assassinato em frente à sede da Justiça deixa um simbolismo muito grande. Como o senhor vê isso?
Brígido - Que eles estão mais ousados. Mas a culpa é do próprio poder público, que deixou chegar a isso. O poder público tem uma certa vacilação em reprimir. O Judiciário não dá uma resposta pronta, eficiente, e acontece isso. (O POVO Online)

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