"A edição impressa do Manual de Jornalismo da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) foi lançada hoje (11), em Brasília. A publicação, disponível na internet desde junho de 2012, traz os princípios e valores da empresa, além de orientações gerais para o trabalho diário dos profissionais de todos os seus veículos.
Na avaliação do jornalista Antonio Achilis, que coordenou o processo de elaboração do manual, trata-se de um marco na construção da comunicação pública do país. Ele ressaltou que a publicação é resultado de um trabalho coletivo e democrático, que envolveu jornalistas de todas as plataformas usadas na empresa e contou com as contribuições de especialistas externos e de representantes da sociedade civil.
Para Achilis, que é especialista em gestão estratégica da informação e ex-presidente da Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (Abepec), a principal característica do Manual de Jornalismo da EBC é a “forte abertura à participação da sociedade”.
“Analisamos manuais de dez países e percebemos que há um consenso entre eles no que tange a questões éticas, de correção, de respeito à privacidade. No nosso caso, foram agregados conceitos importantes de estímulo à qualificação das pessoas [profissionais] e do produto, por meio, entre outros fatores, da forte abertura à participação da sociedade. Isso deve ocorrer com mecanismos estáveis e de forma regrada. As pessoas têm espaço para participar [do conteúdo que a empresa produz] sem que a EBC abra mão da qualidade do que veicula”, ressaltou.
O jornalista português Carlos Fino, que trabalhou na Rádio e Televisão Portuguesa (RTP) e que participou hoje da terceira edição do Diálogos EBC, evento interno da empresa, que promove debates sobre temas relacionados à comunicação, destacou que "o fazer substancialmente diferente" em relação aos veículos comerciais, sem abrir mão da qualidade e da audiência, é o principal desafio da comunicação pública.
“Se é para fazer igual ao setor privado, para que o Estado gasta dinheiro?", questionou Carlos Fino, enfatizando que os veículos públicos são feitos para o público, com dinheiro do público e devem ser controlados pelo público.
Para ele, a iniciativa brasileira de estabelecer parâmetros para o setor, com o lançamento do manual, revela que essa preocupação “está muito presente”. “Embora o Brasil engatinhe nessa área, percebemos que houve avanços nos últimos cinco anos na direção da consolidação de um serviço público que mereça esse nome, que esteja a serviço do público, e não dos governos ou do Estado”, disse o jornalista,reconhecido como o primeiro repórter a noticiar o bombardeio do Iraque em 2003, quando era correspondente internacional em Moscou.
O diretor-presidente da EBC, Nelson Breve, ressaltou que o manual, resultado dos cinco anos de experiência desde a criação da empresa, refina a prática do jornalismo público interno, mas também reflete o compromisso da instituição com a sociedade.
Segundo Breve, o nome dado à publicação, Somente a Verdade, corrobora o principal caráter da atividade jornalística, que deveria ser entendida, independentemente de ser financiada com recursos públicos ou privados, como um serviço público. Para ele, a definição de regras claras para a busca, o tratamento e a publicização da informação que deve ser de interesse do cidadão é imprescindível para que todos esses processos sejam feitos com integridade.
"Temos que primar pela perfeição, o que não é fácil porque somos humanos e erramos, mas o erro não pode ser uma forma de justificar intenções que não são as de busca e divulgação da verdade. O cidadão tem o direito de tomar suas decisões com base nisso, com base nas informações que ele recebe”, enfatizou, destacando que o lançamento da edição impressa do manual ocorre na semana do Dia do Jornalista – 7 de abril – quando também comemoram-se os cinco anos da lei que criou a Empresa Brasil de Comunicação.
A diretora de Jornalismo da EBC, Nereide Beirão, disse que lançamento encerra um ciclo "desafiador e interessante". Ela enfatizou que a produção do manual não limita a prática jornalística, mas define parâmetros para uma produção que se diferencie dos conteúdos dos veículos comerciais, sendo "mais completa para o ouvinte, o leitor e o telespectador".
"O jornalismo público dá ao profissional o direito de produzir sem manipulação, sem influência, o jornalismo de verdade, em sua plenitude, e o conteúdo do manual conseguiu refletir nossos princípios, valores, de acordo com a lei que criou a EBC", disse.
A diretora destacou, no entanto, que a prática jornalística é dinâmica, e que o manual deve absorver, futuramente, novas contribuições e ter novas edições.
Nereide Brandão ressaltou que, entre outros temas, a publicação consolida a autonomia e a isenção da cobertura jornalística das atividades do Poder Executivo, ao qual a EBC está vinculada formalmente, mas sem dar espaço ao preconceito que possa deixar de lado informações de interesse do cidadão, como sobre programas e serviços do governo que podem ser usados pela população. Ela enfatizou que o manual também busca a interiorização da notícia, de modo a valorizar a real diversidade cultural no país, fugindo de esteriótipos."( Agência Brasil)
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