sábado, 21 de setembro de 2013

Para reflexão

Emparedados sim...


Texto da jornalista Lucia Stedile

Contemplo esse facebook (que traz uma certa amostragem do pensamento nacional) com sua pluralidade e me choco com um traço singular que encontro diuturnamente no meu feed de notícias. Me choco porque vejo a maioria emparedada num maniqueísmo tal, que não fica difícil entender porque somos uma sociedade absolutamente engessada em alguns conceitos rasos, 'com a profundidade de um pires', como diria meu poeta amigo Pedro de Alcântara Dantas.
Senão vejamos:
Abundam postagens com a cara dos generais/presidentes da ditadura com comparações que... vou te contar!!! E me faço uma pergunta simples: a bagaça da política atual torna melhor aquele período obscuro? Queremos voltar aquelas trevas? E 'a pergunta': por que não podemos seguir adiante em busca de algo novo, mais limpo, sem autoritarismo, sem corrupção, sem esse deboche em que se transformou a política nacional? Ora, nós podemos, somos capazes!!!

Outro exemplo: pra justificar porque o PT rouba, fala-se dos roubos do PSDB e vice-e-versa!!! Pra defender mensaleiros ataca-se o STF e vice-e-versa. Quanto ao Congresso, justiça se faça, ninguém mais defende, porque já é indefensável. O que não deixa de ser um bom sinal, mas, ainda assim, o contemplamos do alto da nossa indignação paralisada, não mais.

Mais um exemplo: para condenar as sandices do Feliciano, ataca-se valores supostamente cristãos, muitos dos quais são de uma sociedade toda, e não um ponto de vista religioso, sendo que, de outro lado, os cristão atacam, sendo homofóbicos, reacionários e que tais. E vejo discursos religiosos medievais, que nem minha vó beata fazia. É como se para se ter moral, ética, boas posturas, honestidade, a gente precisasse se nortear exclusivamente pelos escritos de Paulo, o Apostolo, ou ainda mais atrás, pelo Velho Testamento. Somos incapazes de sermos bons, tolerantes, se não seguirmos dogmas? E quando os seguimos, por que somos tão literais, radicais, e nos transformamos em criaturas intolerantes, raivosas, incapazes de amar o próximo como mandou o Mestre? Contraditório em excesso não?
Bom e por aí vai!

Acho que falta mesmo é dilalética, palavra que vem do grego e significa "caminho entre as idéias". Falta debate, falta discussão madura, adulta, falta o ponto e o contra-ponto, é assim que se cresce, que se evolui, que se chega a termos. Emparedados no maniqueísmo não chegamos a lugar nenhum, essa sociedade não deixará de chapinhar na mesma lama, no mesmo lugar, sem chegar a nada, presa num saudosismo de um passado que NÃO foi brilhante, na doce ilusão que somos maravilhosos e NÃO somos, de certos preceitos morais que não cabem mais no mundo atual porque ferem frontalmente o direito do próximo ao qual, em tese, deveríamos amar....mandou o Mestre.
Porque o que todos querem, creio, é o novo, um caminho novo, mais tolerante, mas civilizado. A exceção de um que outro grupelho, o brasileiro não é radical, é maleável, eu diria que somos um povo tolerante no geral. Então, que que houve, meu povo???
Para mim é esse emparedamento maniqueísta que exige nada de esforço para continuarem se digladiando, batendo na mesma tecla.
Mas a dialética também não exige tanto: um mínimo de esforço mental, uma disposição de flexibilidade quando se apresenta o argumento certo, uma relativização do todo, tolerancia com outras idéias, humildade para mudar de idéia, coragem para abraçar o novo. Tá, não é tão pouco, mas é estimulante, é excitante, é exercício de vida. É muito bom, recomendo!!! E todos podem, ninguém nasce mais inteligente que outro, não é preciso uma cultura enorme para um debate saudável...e ufa... eu não nasci com um cerebro privilegiado, não sou melhor nem pior que ninguém, mas minha cabeça não aguenta a claustrofobia dessas paredes. Não sou filósofa nem socióloga...mas ando exausta de contemplar a exaustão de todos, a quantidade de energia que demandam para se fecharem dentro desses muros de pensamento...
Irmãos, é preciso coragem!

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