quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Apertando o cinto

Gasto com alimentação eleva endividamento em Fortaleza

O cenário econômico desfavorável tem impactado no custo de vida dos fortalezenses, principalmente em um item essencial: alimentação. Em setembro, mais da metade dos fortalezenses (50,3%) já utilizaram instrumentos de crédito para bancar as despesas com gêneros alimentícios, fazendo com que o nível de endividamento subisse, em setembro, para 70,1% dos fortalezenses, que afirmam estar com parte de sua renda comprometida com algum tipo de dívida. Os números são da Pesquisa sobre Endividamento do Consumidor de Fortaleza divulgada, ontem, pela Fecomércio-CE
Subida
O índice total continua a subir na análise mensal, sendo a terceira elevação seguida, após registrar queda de 4,1% em junho (65,7%) e um avanço de 7,1% sobre igual mês de 2014, quando o índice chegou a 63%. Apesar disso, segundo o levantamento, a proporção dos consumidores com contas ou dívidas em atraso teve queda de 0,1 ponto percentual, indo de 21,6%, em agosto, para 21,5% neste mês.
Tendência
Contudo, a tendência de crescimento se mantém apesar do resultado ser muito melhor que o apresentado no último mês de maio, de 25% – máxima desse indicador desde que a pesquisa foi iniciada. “Essa queda se refere aos consumidores que estão realmente apertando o cinto, não fazendo nenhum novo débito, até porque muitos deles, com as contas em atraso, perdem o crédito, e estão comprando à vista”, avaliou a diretora institucional da Fecomércio-CE, Cláudia Brilhante. A pesquisa toma por base dados coletados, mensalmente, com cerca de mil consumidores da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
Comportamento
Conforme o IPDC (Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Comércio) - ligado à Fecomércio-CE -, os problemas financeiros afetam mais as mulheres (23,8% afirmam possuir contas em atraso), os consumidores do grupo com idade entre 25 e 34 anos (27,3%) e com renda familiar inferior a cinco salários mínimos (22,9%). O valor estimado das dívidas é de R$ 1.314,00, com prazo médio de sete meses.
Instrumentos de crédito
Dos instrumentos de crédito mais utilizados pelos consumidores, além do cartão de crédito – citado por 81,7% dos entrevistados –, estão o financiamento bancário (veículos, imóveis etc.), com 15,8%; empréstimos pessoais (8,9%); e carnês e crediários (7,1%). O levantamento destaca que 31% da renda familiar dos consumidores já está comprometida com o pagamento de dívidas, sendo que as causas do endividamento teve como principal influência as compras de itens de alimentação (citadas por 50,3% dos consumidores), seguido de artigos de vestuário (38,1%), eletroeletrônicos (33,7%), e despesas de educação e saúde (29,4%).
Taxa de inadimplência
á a taxa de inadimplência potencial – proporção de consumidores que não terão condições financeiras para honrar seus compromissos – avançou 2,3%, ao passar de 7,4% (agosto), para os atuais 9,7%, sendo a terceira alta seguida desse indicador, e a taxa mais elevada dos últimos cinco anos. “A manutenção de um percentual elevado da renda comprometida com o pagamento de dívidas e o aumento do custo de vida contribuem para o crescimento da inadimplência potencial, mas a maioria dos consumidores parece estar conseguindo administrar a qualidade do crédito”, destaca o IPDC, em nota. Quanto ao perfil do consumidor inadimplente, há preponderância do grupo de consumidores do sexo feminino (11,9%), com idade entre 25 e 34 anos (11,3%) e renda familiar inferior a cinco salários mínimos (10,5%).
Orçamento
A falta de planejamento orçamentário continua como problema crítico para o controle do endividamento, estando sempre entre um dos principais motivos para o atraso ou inadimplência. O tempo médio de atraso é de 67 dias e a principal justificativa, para que os consumidores atrasem suas contas, continua sendo o desequilíbrio financeiro – a diferença entre a renda e os gastos correntes – citado por 61,4% dos consumidores. Em segundo lugar, vem o adiamento por conta do uso dos recursos em outras finalidades, com 29,9%, seguindo pela contestação da dívida (6,8%).
Pesquisa de Endividamento
A Pesquisa de Endividamento também revela que 81,3% dos consumidores de Fortaleza afirmam fazer orçamento mensal e acompanhamento eficaz dos seus gastos e rendimentos, o que contribui para um melhor controle dos níveis de endividamento. Outros 9,9% relataram que fazem orçamento dos rendimentos, mas sem controle eficaz dos gastos, e 8,8% dos entrevistados informaram não possuir orçamento e tampouco controle dos gastos.
Dos fatores que os consumidores consideram que mais contribuem para a inadimplência, estão a falta de orçamento e controle dos gastos (para 38,3% dos entrevistados); seguido de aumento dos gastos considerados essenciais (27,3%); compras por impulso, sem necessidade ou além do necessário, com 26,6%; compras antecipadas (19,6%); gastos imprevistos (18,5%) e redução dos rendimentos (12,1%).
Crise impacta no orçamento das famílias
Ao avaliar os resultados da pesquisa, a diretora institucional da Fecomércio-CE, Cláudia Brilhante, afirmou que o maior gasto das famílias com alimentação é decorrente da inflação incidente nesse grupo. “Sem dúvida, [o maior comprometimento da renda] é reflexo do momento atual dessa grande crise que o País está vivendo, impactando no dia a dia do consumidor. Estamos percebendo que, desde o início do ano para cá, o grande vilão do endividamento e inadimplência tem sido a alimentação – o que não é nada supérfluo, e, sim, necessário, já que [o consumidor] precisa da alimentação para sobreviver. E, como o custo de vida aumentou – aumentaram as despesas e o salário ficou estável –, o consumidor está perdendo o poder de compra, não podendo mais pagar à vista sua alimentação e passando a utilizar o cartão de crédito”, explicou.
Cláudia também atribui a esse movimento a alta da inadimplência potencial, que é um dado que precisa de uma atenção maior, na visão da diretora. “Esse aumento de 7,4%, em agosto, para 9,7% é referente ao consumidor que não tem como pagar suas dívidas, seja porque perdeu o emprego ou comprou mais do que ganhava. Esse ponto é o que nos preocupa, apesar de não ser um grande número. E está ligado, principalmente, à elevação dos alimentos, somando-se a isso, alta de juros, impostos, combustíveis e energia elétrica”, conclui. Apesar desses fatores, a diretora acredita que as vendas no comércio deverão ser aquecidas até o final do ano com o incremento do 13º salário.

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