terça-feira, 29 de setembro de 2015

Bom dia!

Nada mais lindo do que em segurança dentro de sua própria casa ver o dia amanhecer, o sol preguiçosamente surgir rasgando as nuvens. Uma terça-feira tão iluminada quando o sol do pingo do meio dia. E como pra mim a poesia é o alimento da alma, divido com vocês essa pérola de Álvares de Azevedo.

“LEMBRANÇAS DE MORRER
Eu deixo a vida como deixa o tédio 
Do deserto, o poento caminheiro,
- Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade - é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
Só levo uma saudade - é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas.
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!
Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei. que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores.
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.
Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo.
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida.”
Álvares de Azevedo

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