Um simples gesto que pode mudar a vida de muitas crianças. “Não tenho como ajudar de outra forma as pessoas que sofrem com câncer, mas meu cabelo está grande, eu já queria cortar e ele seria descartado. Agora não, com essa oportunidade, além de cortar, vou estar ajudando ao doar para servir de peruca a alguma criança com câncer”, disse, empolgada, a dona de casa Alberlúcia Gonçalves, enquanto aguardava sua vez de praticar o ato de solidariedade.
Assim como Alberlúcia, mais de 50 mulheres e crianças lotavam o auditório do Bloco Didático, do Hospital Doutor Waltemar Alcântara (HGWA), na manhã de ontem, para participar do projeto “Um pedacinho de amor não dói”, que recebe doações de cabelos e utilizam na confecção de perucas para crianças carentes portadoras de câncer. De 10 às 16 horas, o hospital promoveu a ação para arrecadar cabelos para o projeto. Uma equipe de cabeleireiros esteve no local cortando, gratuitamente, o cabelo dos doadores, e o sucesso superou as expectativas.
A diretora do HGWA, Fernanda Netto, disse que ansiava em promover uma ação que fosse além da função de prestar serviço de saúde. Ao tomar conhecimento de “Um pedacinho de amor não dói”, por uma das gestoras, não pensou duas vezes em acolher a iniciativa. “A gente não imaginava que tantas pessoas fossem procurar, tivemos uma adesão muito grande, teve gente que já trouxe cortado, e depois desse sucesso, esse deve ser o primeiro de muitos. Com certeza, vamos programar para termos outro momento como esse”, disse a pediatra, que também aproveitou para doar o seu.
A avó da pequena Isabelle Vitória disse que a netinha, de quatro anos, não gosta de cortar os cabelos. “Ela sempre chora para não cortar”, mas quando soube que seu cabelo poderia ser doado para outras crianças, ela mesmo pediu que a avó a levasse.
Projeto
O projeto já existe há um ano e meio e foi idealizado pela estudante Marília Karen. Ela conta que depois de presenciar a cena de duas adolescentes que brincavam com lenços fingindo ser cabelo, após a perda devido ao processo de quimioterapia, ficou comovida e sensibilizada em ajudar de alguma forma. “Depois daquele dia, falei com minha mãe que queria ajudar. Meu cabelo estava grande e vi que doá-lo seria a única forma a meu alcance, mas só o meu não bastava. Comecei a conversar com minhas amigas e logo, na escola e em minha casa começaram a chegar muito cabelo”, lembra.
As doações foram se transformando em perucas. Segundo Marília, o projeto já distribuiu mais de 20 e, agora, depois da grande repercussão que teve ontem, o número irá aumentar. “As perucas são fabricação própria, feitas a mão pela Adrízia Andrade, que agora está me ensinando a montar, para agilizar na confecção. Hoje [ontem], as doações bateram nossas expectativas e estou muito feliz em ver o projeto sendo conhecido”, afirmou Marília. De acordo com ela, as perucas são doadas para crianças da Assocrio, Lar Amigos de Jesus, Associação Peter Pan ou para quem esteja necessitando. “É só entrar em contato com a gente pela página no Facebook “Não Dói” e contar a história”.
A auxiliar de escritório Kathlen Minelle só conheceu o projeto ontem. “Eu não sabia que existia esse tipo de doação, quando soube achei um gesto muito bonito e decidi doar o meu, que não é longo, então vai ficar bem curto”, afirmou.
Outras doações
Além de cabelo, a iniciativa recebe doações de linhas e tecidos para confeccionar as perucas, e também de alimentos e material de higiene. Quem não pôde doar ontem, pode cortar o cabelo e enviar para o seguinte endereço: Avenida Bezerra de Menezes, 479; AC Monte Castelo; caixa postal, 822. Os cabelos devem ser cortados, no mínimo, 15 centímetros e não importa a qualidade, nem mesmo se são tratados quimicamente.
ANATÁLIA BATISTA - O ESTADO
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