Autoridades flagram novos casos de trabalho escravo no Ceará
A equipe formada por Auditores Fiscais do Trabalho, Procuradores do Ministério Público Federal,
Procuradores do Ministério Público do Trabalho e agentes da Policia Rodoviária
Federal flagraram, na sexta-feira(25/09),
vinte e quatro trabalhadores em situação análoga a de escravo na construção de casas do programa MINHA CASA
MINHA VIDA, no município de Ibiapina/CE, a 300 km da capital Fortaleza. Os
trabalhadores foram aliciados no Rio
Grande do Norte/CE e transportados até
Ibiapina/CE de forma clandestina onde chegaram no dia 07/09/2015, por volta da
meia-noite , sendo alojados
precariamente em sua maioria nas próprias casas em construção, sem água
encanada, sem instalações elétricas, sem instalações sanitárias, o que obrigava
os trabalhadores a fazerem as suas necessidades fisiológicas dentro do mato
como se fossem bichos. A situação se
tornava ainda mais dramática com o fornecimento irregular de gêneros
alimentícios pela empresa contratante. Quando do flagrante, os auditores
fiscais do trabalho exigiram que a
empresa pagasse as refeições dos trabalhadores num restaurante da cidade. Os
trabalhadores saíram das cidades de Passa e Fica/RN,
Goianinha/RN e
Canguaretama/RN no dia 06/09/2015, onde 19 deles foram transportados numa van e
os demais num caminhão, sendo que 5
desses trabalhadores vieram na caçamba deste transporte junto com parte do
material de construção. Nenhum dos
trabalhadores tinham CTPS assinada e
não receberam qualquer tipo de EPI. Alem de todas essas irregularidades,
ficou comprovado a extrapolação da jornada de trabalho e um intervalo de apenas
30 min para refeição e descanso.
Termo de embargo
A fiscalização do
trabalho exigiu a imediata suspensão das atividades através de Termo de Embargo
Total da obra e o pagamento das verbas rescisórias de todos os trabalhadores
está marcado para a data de hoje, a partir das 14h, na Câmara Municipal de
Ibiapina/CE. Após o pagamento, os trabalhadores retornarão para as cidades de
origem em ônibus de linha, tudo custeado pela empresa infratora. Na ocasião,
serão entregues as Guias de Seguro Desemprego do Trabalhador Resgatado em virtude da situação em que os mesmos foram
encontrados. Foram lavrados 30 autos de infração pelo descumprimento das normas
trabalhistas.
Flagrante
O outro flagrante de trabalhadores submetidos em situação de
trabalho análogo a de escravo ocorreu no dia 24/09/2015, quarta feira da semana
anterior, numa fazenda produtora de côco-baía na zona rural de Pentecostes/CE,
a cerca de 115kms da capital do Estado.
Dez trabalhadores eram alojados em condições degradantes, sendo que 5 (cinco)
estavam alojados num curral de gado localizado no interior da fazenda, sem as
mínimas condições de higiene e conforto, numa situação que afrontava a
dignidade do ser humano. Os demais estavam em uma casa de alvenaria. Em nenhum
desses locais havia instalações sanitárias, água potável e fornecimento de EPI.
Os trabalhadores estavam sem registro, não tinham direito a férias, nem
recebiam 13º salário. Os trabalhadores foram resgatados pela fiscalização e o
pagamento dos direitos trabalhistas está previsto para a próxima quinta 01 de
outubro na sede da SRTE/CE. Na ocasião, serão emitidas e entregues as Guias de
Seguro Desemprego do Trabalhador resgatado e os autos de infração lavrados.
Existência de trabalho escravo
O governo brasileiro reconheceu em 1995 perante a ONU a
existência de trabalho escravo no Brasil. De lá para cá, o modelo brasileiro,
implantado para combater e erradicar essa chaga que ainda existe nas diversas
regiões e atividades econômicas, teve
reconhecimento internacional. Nesses 20 anos de combate ao trabalho escravo,
cerca de 50 mil trabalhadores foram resgatados nessa situação. No Ceará, o
primeiro caso aconteceu em 2006. A pratica é mais frequente no meio rural
cearense, onde já foram flagrados trabalhadores escravizados nas atividades de
cultivo de cana de açúcar, melão,
pesca, extração de lenha e da cera da carnaúba e produção de carvão
vegetal. A partir de 2013, as atividades mais problemáticas na região são as
ligadas a extração da cera de carnaúba e a extração de lenha. Esses últimos flagrantes chamaram atenção
pelas atividades da construção civil e da produção e do cultivo de coco-baia,
que nunca tinham sido flagradas anteriormente no Estado do Ceará.
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