quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Bom dia com poesia

Uma quinta-feira bem arretada de boa para todos nós e vamos deixar o que não faz mais sentido de lado e cuidar da vida porque se perdeu o gosto e já entedia; se já não mais tem vibração, então perdeu o sentido, pode deixar ir embora, pois não adianta prolongar o que já não quer mais lhe acompanhar. Pensem nisso.


"À SOMBRA DAS ARAUCÁRIAS
Não aprofundes o teu tédio.
Não te entregues à mágoa vã.
O próprio tempo é o bom remédio:
Bebe a delícia da manhã.

A névoa errante se enovela
Na folhagem das araucárias.
Há um suave encanto nela
Que enleia as almas solitárias...

As coisas tem aspectos mansos.
Um após outro, a bambolear,
Passam, caminho dágua, os gansos.
Vão atentos, como a cismar...

No verde, à beira das estradas,
Maliciosas em tentação,
Riem amoras orvalhadas.
Colhe-as: basta estender a mão.

Ah! fosse tudo assim na vida!
Sus, não cedas à vã fraqueza.
Que adianta a queixa repetida?
Goza o painel da natureza.

Cria, e terás com que exaltar-te
No mais nobre e maior prazer.
A afeiçoar teu sonho de arte.
Sentir-te-ás convalescer.

A arte é uma fada que transmuta
E transfigura o mau destino.
Prova. Olha. Toca. Cheira. Escuta.
Cada sentido é um dom divino."

© MANUEL BANDEIRA 
In A cinza das horas, 1917 

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