Em reunião em Nova Iorque, sub-secretário-geral das Nações Unidas, Andrew Gilmour, se disse "atordoado" com os comentários do brasileiro sobre a ditadura no Chile e a morte do pai da alta Comissária da ONU, Michelle Bachelet.
GENEBRA – Representantes do governo se calaram diante das cobranças recebidas pelo governo por conta dos ataques feitos pelo presidente Jair Bolsonaro contra a alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet. Um dos principais membros da cúpula das Nações Unidas afirmou que as declarações do brasileiro o deixaram "atordoado".
O silêncio da delegação brasileira ocorreu durante uma sabatina realizada na ONU, nesta sexta-feira, para que cada um dos países que buscam uma vaga no Conselho de Direitos Humanos possam explicar sua agenda, valores e prioridades. O Brasil é um dos candidatos a um novo mandato no órgão internacional, numa eleição marcada para outubro.
O constrangimento escancarou a crise diplomática aberta por Bolsonaro, num momento em que o Brasil precisa provar ao mundo seu compromisso com os direitos humanos. Ignorando Mauro Vieira, o embaixador do Brasil na ONU, um ex-chanceler de Dilma Rousseff, o governo optou por enviar ao evento um representante do Ministério de Direitos Humanos e crítico da Lei Maria da Penha.
Nesta semana, a ex-presidente chilena respondeu a uma pergunta do UOL numa coletiva de imprensa em Genebra e indicou que estava preocupada com a violência policial, com a redução do espaço democrático e com a tentativa de negar os regimes ditatoriais do passado.
Bolsonaro retrucou fazendo uma apologia a Augusto Pinochet e citando como o regime ditatorial evitou o comunismo, colocando um fim à Esquerda. Ao atacar Bachelet, o presidente brasileiro causou um choque internacional ao citar o pai da alta comissária, Alberto Bachelet, assassinado pelo regime de Pinochet.
Nesta sexta-feira, porém, o constrangimento do Brasil era evidente. Durante a sabatina, a delegação brasileira foi alvo de uma pergunta realizada pela entidade Conectas.
A ong questionou o que o Brasil faria para garantir uma relação positiva do governo com o Escritório de Direitos Humanos da ONU diante dos recentes ataques de Bolsonaro contra a alta comissária.
Antes de passar a palavra para a delegação brasileira, o moderador do encontro e sub-secretário-geral da ONU para Direitos Humanos, Andrew Gilmour, também aproveitou o momento para criticar duramente a postura de Bolsonaro.
"Eu preciso dizer que eu também fiquei atordoado com os ataques por parte do presidente Bolsonaro contra a alta comissária e e ao seu pai que foi torturado e morto", disse. Apesar de curta, a frase deixou claro o profundo impacto que o comportamento do presidente teve dentro da ONU. Tradicionalmente, sub-secretários e membros da entidade evitam criticar chefes-de-estado.
A delegação brasileira, ao tomar a palavra, falou de vários outros temas que também tinha sido perguntado, como LGBT, Venezuela e papel das ongs. Mas criou um constrangimento ao ignorar a pergunta sobre Bachelet e silenciar.
O Brasil estava sendo representado pelo secretário-adjunto de Políticas Globais do Ministério de Direitos Humanos, Alexandre Magno, além de diplomatas do Itamaraty.
Gilmour não conseguiu conter uma expressão de surpresa diante da ausência de uma resposta do governo.
Na quarta-feira, numa resposta indireta, Bachelet alertou que nem sempre democracias elegem democratas ou pessoas que acreditam em direitos humanos.
Segundo Magno, se eleito, o Brasil vai defender resoluções pela proteção de jornalistas, a luta contra a corrupção e esportes.
Amazônia
Mas o Brasil não teve de lidar apenas com a crise gerada pelos comentários contra Bachelet. A entidade Human Rights Watch cobrou respostas sobre como o governo pretende agir para proteger ambientalistas, defensores de direitos humanos e indígenas.
A delegação brasileira, ao responder, adotou o novo mantra do governo: a de que as queimadas na Amazônia não foram maiores que em anos anteriores e que o Planalto está comprometido em lutar contra o fogo.
Citando medidas adotadas e dados de avanços em governos anteriores, a delegação brasileira ainda indicou que queda de desmatamento foi de 75%.
Sobre a situação dos povos indígenas, a Magno lembrou que é descendente de indígenas e que existem medidas reais para proteger essas comunidades.
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