Parte considerável das ruas de Fortaleza pode ser facilmente cavoucada entre túmulos do cemitério São João Batista. Ilustres como o senador Virgílio Távora, os barões de Aratanha e de Studart, general Sampaio, Quintino Cunha, Tristão Gonçalves, Plácido de Carvalho e outros que ajudaram a construir a história da cidade descansam abaixo do chão do cemitério. Em túmulos imponentes, correm às vistas os pequenos trechos, como resumos, da dor e da saudade dos parentes que ficaram aqui, mesmo há tanto tempo.
As inscrições nas covas traçam ainda parte da memória da Capital. “Plácido que em vida deixou exemplos indeléveis de bom caráter, operosidade e amor à nossa querida Fortaleza.” É o registro da morte de Plácido Carvalho, responsável pelo palácio na hoje praça Luíza Távora, destruído em 1972.
As lápides também armazenam protesto, como naquela que abriga o corpo de frei Tito, assassinado pela ditadura militar em 1974. Escrito em letras maiúsculas, o túmulo ainda exclama a dor do frade. “Preso, torturado, banido do País, atormentado... Até a morte por ter proclamado o evangelho, lutando pela libertação de seu povo.” Morto em L’Arbresle, na Franca, Tito agora descansa na terra onde nasceu.
Alguns dos túmulos são verdadeiros altares. Fotos e objetos pessoais enfeitam, ao lado de velas, a casa dos corpos. Enquanto alguns choram e lamentam, seis meninos entre 10 e 13 anos oferecem a ajuda para manter os jazigos com tinta fresca. Os serviços custam R$ 5. Leonardo, o mais velho, já tinha ganho R$ 22 até as 10 horas da manhã.
Nem só de personagens conhecidos e afamados são povoadas as covas e as saudades do São João Batista. Mais afastada da entrada da rua Padre Mororó, rumando para a avenida Filomeno Gomes, a morada eterna dos mais simples também enche de saudades as leituras das lápides. Numa delas, a família coloca a foto de um garotinho de dois anos e as palavras de incompreensão pela despedida: “Tão cedo partiste deixando nosso coração dilacerado de dor e saudade”, narra.
(O Povo)
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