sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Dia de Finados: A saudade fala mais alto e as inscrições nas lápides falam da memória e de afeto

 
FOTO: DEIVYSON TEIXEIRA
Escritos nas lápides do cemitério São João Batista: mensagens de esperança,
protesto e carinho destinadas aos mortos, mas principalmente aos vivos
 
Parte considerável das ruas de Fortaleza pode ser facilmente cavoucada entre túmulos do cemitério São João Batista. Ilustres como o senador Virgílio Távora, os barões de Aratanha e de Studart, general Sampaio, Quintino Cunha, Tristão Gonçalves, Plácido de Carvalho e outros que ajudaram a construir a história da cidade descansam abaixo do chão do cemitério. Em túmulos imponentes, correm às vistas os pequenos trechos, como resumos, da dor e da saudade dos parentes que ficaram aqui, mesmo há tanto tempo.
 Nos epitáfios andam escritas de português de outros tempos. As mensagens, qual cartas, são convites para visitação do cemitério mais antigo em funcionamento em Fortaleza no Dia de Finados ou em outro qualquer, mesmo para aqueles que não têm parentes a guardar ali. “São as paixões e não os interesses que constroem o mundo”, ensina o túmulo do Virgílio Távora. “Aqui esperam a ressurreição final”, diz a lápide de Olegário e Celina, marido e mulher que aguardam, juntos e eternos, pelo dia do juízo.

As inscrições nas covas traçam ainda parte da memória da Capital. “Plácido que em vida deixou exemplos indeléveis de bom caráter, operosidade e amor à nossa querida Fortaleza.” É o registro da morte de Plácido Carvalho, responsável pelo palácio na hoje praça Luíza Távora, destruído em 1972.

As lápides também armazenam protesto, como naquela que abriga o corpo de frei Tito, assassinado pela ditadura militar em 1974. Escrito em letras maiúsculas, o túmulo ainda exclama a dor do frade. “Preso, torturado, banido do País, atormentado... Até a morte por ter proclamado o evangelho, lutando pela libertação de seu povo.” Morto em L’Arbresle, na Franca, Tito agora descansa na terra onde nasceu.

Alguns dos túmulos são verdadeiros altares. Fotos e objetos pessoais enfeitam, ao lado de velas, a casa dos corpos. Enquanto alguns choram e lamentam, seis meninos entre 10 e 13 anos oferecem a ajuda para manter os jazigos com tinta fresca. Os serviços custam R$ 5. Leonardo, o mais velho, já tinha ganho R$ 22 até as 10 horas da manhã.

Nem só de personagens conhecidos e afamados são povoadas as covas e as saudades do São João Batista. Mais afastada da entrada da rua Padre Mororó, rumando para a avenida Filomeno Gomes, a morada eterna dos mais simples também enche de saudades as leituras das lápides. Numa delas, a família coloca a foto de um garotinho de dois anos e as palavras de incompreensão pela despedida: “Tão cedo partiste deixando nosso coração dilacerado de dor e saudade”, narra.
(O Povo)

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