Pois bem, a claridade
ofusca meus olhos, como a lembrar que a aurora precede o nascer do sol. Eu
gosto de levantar-me pela aurora. Hoje é um dia atípico. Estou com uma alergia
de dá pena e dó. Meu nariz já está igual a um pimentão maduro. Bom, deixa pra
lá , isso é outro assunto. Volto aos meus devaneios. Volto à minha janela.
Volto meus olhos para o horizonte. O sol está aí, como sempre, insolentemente
brilhante.
A cidade parece ser feita de luz. Como acontece todas as manhãs,
pego um balde, encho de água e vou aguar minhas plantinhas. Em silêncio dou
início a rega, uma espécie de aspersão ritual para que minhas plantinhas não
murchem como murcho está meu coração (não, meu coração num tá murcho coisa
nenhuma, é mentira, to mentindo, que coisa feeeeeeeia!). E eu olho para as
plantas, para o homem que passa lá em baixo com uma mochila nas costas. De
repente noto que as gotinhas de água de uma plantinha está caindo nos ombros
daquele senhor que sem motivo aparente, havia parada na calçada. Ele olha pra
cima e se afasta um pouco. Perco o interesse e olho para a rua ao lado. Avisto
pessoas que vão ao trabalho, pardais que entoam seus cantos numa invejável
alegria, pulando o muro e pousando nas plantas. Viro-me e vejo minha Josefina a
abrir e fechar seus olhinhos, provavelmente, sonhando com os pardais. Avisto
duas borboletas quase transparentes a fazer zig zag no ar. Agora é um avião que
passa como a chamar-me para mais uma viagem. Adoro viajar!
São 7 horas, o
interfone toca. Atendo. É o porteiro avisando que o Assis, o pintor chegou. E
as mudanças vão começar e ter início o fim de um ciclo. Volto-me para dentro de
mim mesma e penso: - Tudo certo! Sinto-me tranquila, calma, serena. É, parece
que está tudo em seu lugar. E quando falo dessas coisas que estão ali, diante
de minha janela, dessas pequenas felicidades, as pessoas não acreditam, acham
que essas coisas não existem. Pois saibam que existem sim, é só saber olhar de
sua janela para poder vê-las.
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