Violência policial em debate

VIOLÊNCIA Jovens denunciam ter sido agredidos por policiais em protesto e pedem apoio da sociedade para que agressões não se repitam

Jovens que se dizem vítimas de agressões cometidas por quem deveria protegê-los se reunirão hoje, às 14h, no Diretório Acadêmico de Pedagogia da UFPE para denunciar excessos cometidos por policiais militares em protesto sábado, no Derby, área central do Recife. Integrantes da Frente Independente Popular buscam apoio da sociedade para evitar que cenas de violência contra manifestantes se repitam.
Acuados
O estudante de fisioterapia Cristiano Vasconcelos, 21 anos, participou, do ato na Praça do Derby. Sem usar máscara ou agir de forma considerada agressiva, ele disse ter sido preso e conduzido à Delegacia de Santo Amaro, onde estavam detidos outros manifestantes. A alegação, segundo ele, dada pelo PM que efetuou a prisão era haver ordens expressas da Secretaria de Defesa Social (SDS) para detê-lo.
"Não estava mascarado e mesmo assim fui levado. Estava nervoso, porque não havia motivo para ser preso e os policiais perceberam isso e estavam visivelmente constrangidos. Fui no carro da PM, sem nenhuma justificativa. A humilhação foi enorme. Os policiais me olhavam com pena", conta o rapaz. Cristiano foi liberado à noite.
Já o estudante Marcos Santiago, 17, afirma ter sido acuado por PMs na Avenida Agamenon Magalhães que jogaram spray de pimenta em seu rosto. "Eles me mandaram abrir a boca para jogar a substância, mas fiquei me debatendo e consegui me livrar. Meu rosto ficou inchado, porque colocaram o spray a menos de cinco centímetros dos meus olhos", disse o jovem, que cursa o 3º ano do ensino médio e foi ao protesto com o irmão de 15 anos e o pai. "O movimento estava tranquilo, porém mal pisamos na rua e a repressão começou", conta.
Confusão
Marcos não estava de máscara nem vestia preto, para evitar confronto ou ser confundido com integrantes do Black Bloc. "Tinha um cara do meu lado mascarado e que apanhou muito, não sei o estado em que ele ficou, porque saí correndo", acrescenta. No sábado à noite, ele tentou prestar queixa na GPCA contra o PM, que não estava identificado, mas não conseguiu. Ele vai formalizar o caso na Corregedoria de Polícia e no Ministério Público de Pernambuco. A assessoria do MPPE afirmou que denúncias contra a polícia serão encaminhadas aos promotores criminais para que adotem as medidas cabíveis.
LEGALIDADE
O presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Pernambuco, deputado Betinho Gomes afirmou que a comissão apoiará sempre qualquer iniciativa da Polícia Militar que esteja amparada na legalidade e que busque garantir a segurança dos cidadãos, inibir possíveis abusos daqueles que, em vez de protestar, usam as manifestações para cometer atos ilegais. "Repudiamos quando alguns PMs despreparados abusam da autoridade e extrapolam suas funções, como ocorreu sábado. Iremos buscar, através de ofício que será encaminhado à SDS, informações sobre esta operação, ao mesmo tempo em que recomendaremos que se apure esses possíveis abusos cometidos."
OAB
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE), Pedro Henrique Reynaldo, afirma que a entidade se posicionará apenas em situação de violência absoluta. "O que chegou ao conhecimento foram casos isolados de excesso. Nenhuma das vítimas nos procurou. A OAB defende a legalidade, a liberdade de expressão e a liberdade de associação para fins pacíficos e o respeito aos direitos humanos." Segundo a OAB, os limites da legalidade valem para polícia e manifestantes.
Nota
No sábado à noite, a SDS divulgou nota afirmando ter precisado fazer uso da força para manter a ordem pública.


(Com Jornal do Commercio)