segunda-feira, 8 de julho de 2019

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Democracia e desigualdade imoral*



Cleyton Monte
Cientista político, professor universitário e pesquisador do Lepem (Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia)
Cleyton Monte Cientista político, professor universitário e pesquisador do Lepem (Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia) (Foto: Cleyton Monte)

A extrema pobreza voltou a crescer no Brasil. É um cenário grave que pode ser refletido em vários setores da sociedade. Doenças que haviam sido erradicadas retornaram com força e a mortalidade infantil avança sobre as famílias mais pobres. A fome e o desemprego assolam as grandes e pequenas cidades. Ao mesmo tempo, reportagem publicada no O POVO aponta que o Ceará ostenta o terceiro lugar nacional no número de bilionários - 15 indivíduos abocanham parte considerável da riqueza estadual. São marcas de um País que convive com desigualdades sociais absurdas e extrema concentração de renda. O que isso tem a ver com a democracia?
Diria que tem tudo a ver. De Rousseau a Putnam, estudiosos das mais diferentes correntes de pensamento se debruçaram sobre a questão e concluíram que a democracia não prospera em cenários de extrema pobreza. O século XX deixou claro que a sociedade de mercado é capaz de produzir uma série de exclusões. A econômica é uma das mais graves, pois elimina as possibilidades do indivíduo garantir uma qualidade de vida digna, dificulta o exercício pleno da cidadania e permite toda forma de exploração e manipulação. O leitor poderá dizer que no mundo inteiro o capitalismo convive com a democracia e consegue produzir resultados sociais razoáveis. Alguns podem até citar exemplos de sucesso. Entretanto, os benefícios estão cada vez mais restritos a pequenos grupos. No Brasil, a situação é ainda mais assustadora - estamos entre as dez nações mais desiguais do mundo e pior: a crise econômica tornou essa realidade desesperadora.
Desde 2013 vivemos uma crise política gravíssima. Uma das motivações para o aprofundamento desse quadro foi a queda vertiginosa na renda dos brasileiros, ocorrida a partir do segundo governo Dilma. O cenário só se agrava. O retrocesso nos índices sociais eleva a pressão sobre um sistema político travado. Com a economia estagnada e sem respostas para os problemas da sua população vulnerável, os governos defendem suas reformas econômicas de salvação, aguardando os investimentos de um mercado indiferente a toda essa problemática. Evidente que o terreno se torna fértil para as organizações criminosas. Assim, enquanto vislumbramos uma desigualdade imoral, a nossa democracia se equilibra entre moralismos de botequim e ilusões bélicas! 
Cleyton Monte
*Artigo publicado no jornal O POVO

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