Do site Combate Rock
Lobão se afunda vertiginosamente ao trocar música por desrespeito
+Marcelo Moreira
É triste quando um artista parte para irrelevância de forma deliberada, planejada. Só isso pode explicar o vertiginoso mergulho da carreira de Lobão para o fundo do poço. Sua apresentação solo, sozinho no palco, ontem em São Paulo, explicitou sua decadência de forma contundente, ao abandonar a arte e partir para o show de stand up, contando piadas sem graça e abusando dos palavrões contra o PT e a presidente Dilma Rousseff.
Transformado em cronista pela revista Veja, decidiu trocar sua prosa inteligente e sua versatilidade intelectual pelo ranço moralista e ideológico, buscando argumentos sofríveis e de pouco apelo numa tentativa de se tornar uma “voz política e de engajamento'' em um meio artístico supostamente “bovino'' e “apalermado''. Consegue apenas ficar falando sozinho dentro de sua classe e para uma plateia que ocupou apenas metade do teatro onde tocou.
CLIQUE AQUI E LEIA O TEXTO DO UOL COM O RELATO DO SHOW DE SÁBADO QUE LOBÃO FEZ EM SÃO PAULO.
O cantor e guitarrista perdeu uma de suas boas qualidades como roqueiro iconoclasta: a sátira contundente, ainda que de mau gosto em algumas vezes. Era mestre em encontrar tiradas bem interessantes sobre vários assuntos – e com isso ridicularizou vários colegas artistas e deixou sem fala políticos e adversários.
Lobão se mudou para São Paulo anos atrás e partiu para o ataque sem fazer questão de pensar no que diz. Sempre se achou revolucionário e sagaz, capaz de mobilizar multidões com sua prosa antes refinada e irônica e com versos incendiários de rara sensibilidade.
De forma bisonha e triste, conseguiu mostrar a todos que perdeu o bom senso e a dignidade, ao julgar pelas “pérolas'' que perpetrou contra a presidente da República. Está desesperadamente tentando transformar desrespeito em argumento.
Gostar ou não gostar do PT e da presidente Dilma é um direito – ambos jamais estiveram livres das críticas, muito pelo contrário. No entanto, querer transformar o ódio biliar e figadal em “dever'' não somente é de mau gosto como de baixo nível, revelando despreparo, intolerância e, no fundo, desespero diante de certa irrelevância artística na atualidade.
De alguma forma o cantor parecia estar de distanciando, lentamente, da turba irada e intransigente que foi às ruas pedir o impeachment de uma presidente eleita nas urnas legitimamente. O ranço antipetista foi mantido, mas pelo menos a questão do impeachment parecia ter desaparecido do horizonte.
No evento de sábado à noite, Lobão dissipou qualquer esperança de retomada do bom senso. O desrespeito foi a tônica do espetáculo de stand up sem graça, com palavrões, expressões chulas e insinuações inacreditáveis feitas por um artista de sua estatura, em uma autossabotagem poucas vezes tão bem-sucedida. O que leva um cantor outrora relevante a se atirar no abismo e jogar a carreira no esgoto?
Seus hits vão sobreviver, assim como o artista inconformado e inteligente que fugia do óbvio nos anos 80 e 90. O Lobão “paulistanizado'', no pior sentido da palavra, continuará se apresentando para poucos, tocando e cantando cada vez menos e contando piadas sem graça e xingando cada vez mais. Quando o desrespeito vira argumento, é hora de trocar o CD/DVD/LP.
+Marcelo Moreira é jornalista
É triste quando um artista parte para irrelevância de forma deliberada, planejada. Só isso pode explicar o vertiginoso mergulho da carreira de Lobão para o fundo do poço. Sua apresentação solo, sozinho no palco, ontem em São Paulo, explicitou sua decadência de forma contundente, ao abandonar a arte e partir para o show de stand up, contando piadas sem graça e abusando dos palavrões contra o PT e a presidente Dilma Rousseff.
Transformado em cronista pela revista Veja, decidiu trocar sua prosa inteligente e sua versatilidade intelectual pelo ranço moralista e ideológico, buscando argumentos sofríveis e de pouco apelo numa tentativa de se tornar uma “voz política e de engajamento'' em um meio artístico supostamente “bovino'' e “apalermado''. Consegue apenas ficar falando sozinho dentro de sua classe e para uma plateia que ocupou apenas metade do teatro onde tocou.
CLIQUE AQUI E LEIA O TEXTO DO UOL COM O RELATO DO SHOW DE SÁBADO QUE LOBÃO FEZ EM SÃO PAULO.
O cantor e guitarrista perdeu uma de suas boas qualidades como roqueiro iconoclasta: a sátira contundente, ainda que de mau gosto em algumas vezes. Era mestre em encontrar tiradas bem interessantes sobre vários assuntos – e com isso ridicularizou vários colegas artistas e deixou sem fala políticos e adversários.
Lobão se mudou para São Paulo anos atrás e partiu para o ataque sem fazer questão de pensar no que diz. Sempre se achou revolucionário e sagaz, capaz de mobilizar multidões com sua prosa antes refinada e irônica e com versos incendiários de rara sensibilidade.
De forma bisonha e triste, conseguiu mostrar a todos que perdeu o bom senso e a dignidade, ao julgar pelas “pérolas'' que perpetrou contra a presidente da República. Está desesperadamente tentando transformar desrespeito em argumento.
Gostar ou não gostar do PT e da presidente Dilma é um direito – ambos jamais estiveram livres das críticas, muito pelo contrário. No entanto, querer transformar o ódio biliar e figadal em “dever'' não somente é de mau gosto como de baixo nível, revelando despreparo, intolerância e, no fundo, desespero diante de certa irrelevância artística na atualidade.
De alguma forma o cantor parecia estar de distanciando, lentamente, da turba irada e intransigente que foi às ruas pedir o impeachment de uma presidente eleita nas urnas legitimamente. O ranço antipetista foi mantido, mas pelo menos a questão do impeachment parecia ter desaparecido do horizonte.
No evento de sábado à noite, Lobão dissipou qualquer esperança de retomada do bom senso. O desrespeito foi a tônica do espetáculo de stand up sem graça, com palavrões, expressões chulas e insinuações inacreditáveis feitas por um artista de sua estatura, em uma autossabotagem poucas vezes tão bem-sucedida. O que leva um cantor outrora relevante a se atirar no abismo e jogar a carreira no esgoto?
Seus hits vão sobreviver, assim como o artista inconformado e inteligente que fugia do óbvio nos anos 80 e 90. O Lobão “paulistanizado'', no pior sentido da palavra, continuará se apresentando para poucos, tocando e cantando cada vez menos e contando piadas sem graça e xingando cada vez mais. Quando o desrespeito vira argumento, é hora de trocar o CD/DVD/LP.
+Marcelo Moreira é jornalista
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