Delfim
diz ainda a Dilma: “vá à televisão mostrar à sociedade, com clareza, que, para
desgastá-la, alguns oportunistas recusam os caminhos institucionais e ensaiam
jogar o Brasil no caos financeiro”.
Leia abaixo o artigo de Delfim Netto:
Um dos problemas mais complicados –principalmente nas
"ciências" sociais– é o estabelecimento de relações de causalidade. O
festejado aumento recente de protagonismo do Poder Legislativo, essencial à
consolidação do processo democrático no regime presidencialista, é a causa eficiente
da visível irresponsabilidadefiscalque
ele tem revelado? O maior equilíbrio de forças entre o Executivo, que formula o
Orçamento, e o Legislativo, que o modifica, aprova e fiscaliza a sua execução,
é necessariamente um mal? Por que um projeto proposto por um deputado ou
senador é sujeito a mais desconfiança do que quando ele mesmo é submetido,
pelos nebulosos caminhos da burocracia, na proposta orçamentária?
É
impossível proibir, sem anular o Poder Legislativo, emendas ou modificações de
gastos dentro das boas regras orçamentárias universais.
Elas exigem que (1) caibam no teto técnica e honestamente
estabelecido para a receita total, ou seja, apenas substituam outras devalorequivalente,
que, (2) quando o teto é violado, sejam acompanhadas pela aprovação de aumento
da receita (imposto ou contribuição) igual e simultâneo, que (3) despesas de
caráter permanente não sejam financiadas por aumento de receitas eventuais ou
aleatórias e que (4) se considere que o investimento de hoje é despesa de
custeio permanente de amanhã.
Essas
regras têm sido abusadas pelos três Poderes, num conluio permissivo preocupante
que ameaça a estabilidade financeira do país.
Seguramente, não foi o aumento do protagonismo do
Legislativo, que, aliás, ajudou a aprovar boa parte do "ajuste" proposto
pelo governo, que produziu a irresponsabilidade. Foi a visível e crescente
desorientação do Executivo e do PT que estimularam a oportunística "farrafiscal"
à qual não faltou, sequer, o Poder Legislativo! Dá tristeza e preocupação
assistir ao que poderia ser um enorme avanço civilizatório, uma Câmara
independente funcional e ágil, revelar-se uma assembleia de diretório acadêmico,
onde a repetitiva gritaria ignorante de um esquerdismo infantil e o abuso de
uma direita troglodita prevalecem sobre o bom senso.
Presidente
Dilma, enfrente o "panelaço" que lhe cabe! Não sofra calada à
desresponsabilização do Legislativo e do Judiciário no aumento das despesas.
Vete os gastos propostos de quase R$ 80 bilhões nos próximos três anos, que nas
últimas semanas foram postos no seu caminho. E vá à televisão mostrar à
sociedade, com clareza, que, para desgastá-la, alguns oportunistas recusam os caminhos
institucionais e ensaiam jogar o Brasil no caos financeiro.
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