domingo, 16 de junho de 2013

Protesto contra tarifa deixou 4 mortos em 1958. Episódio foi lembrado em reportagem do Estadão


Do Estadão

Aumento na calada da noite causou paralisação do transporte e confronto no centro de SP

Carlos Eduardo Entini, Edmundo Leite e Rose Saconi

No final de novembro de 1958, os paulistanos foram dormir com uma tarifa e acordaram com o outra. E no final daquele dia a cidade foi dormir com quatros manifestantes mortos, dezenas de feridos e 150 veículos depredados.
Os usuários só ficaram sabendo do reajuste quando encontraram, na manhã do dia 30, cartazes nos pára-brisas dos ônibus e bondes com novo valor. Com o aumento na calada da noite, as tarifas de ônibus passaram de Cr$ 3,50 para CR$ 5,00, e dos bondes de Cr$ 2,50 para Cr$ 3,00.  Ciente das possíveis reações, o prefeito Adhemar de Barros mandou colocar policiais armados em diversos pontos de ônibus da cidade. Nos dias das manifestações, Barros estava no Rio de Janeiro.
A primeira reação da população foi de reclamação. Mas às 10h30 começaram chegar notícias das primeiras paralisações de ônibus e bondes feitas por estudantes e que se estenderiam durante aquela jornada. Os alunos do Liceu Pasteur pararam um bonde no ponto final da Vila e outro foi impedido por alunos do Mackenzie na Rua Maria Antonia. 
Durante toda aquela manhã e tarde as manifestações foram pacíficas. Para provar, estudantes do Mackenzie montaram um tabuleiro de xadrez em frente a um bonde parado.
Mas as paralisações tomaram outro sentido durante o durante o entardecer, quando há mais procura por transporte. Os estudantes já tinham bloqueado a circulação dos ônibus na Avenida São João, o comércio baixou as portas e as vidraças do cine Olido foram estilhaçadas. Em várias regiões os manifestantes esvaziavam os ônibus, em outras, como na praça 14 Bis, os fiscais da extinta Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) instruíam os motoristas a mandar os ônibus para a garagem. 
Com os pontos de ônibus cada vez mais apinhados de gente, a Força Pública foi acionada para dispersar os manifestantes e liberar a circulação dos veículos da Praça da Sé e da Praça Clóvis, os terminais mais movimentados naquela época. Os soldados levavam além de munição real, balas de festim e bombas de efeito moral. Quando as tropas do Batalhão de Guardas e do Regimento de Cavalaria chegaram, em torno das 18 horas, foram recebidas com paus e pedras pelos manifestantes. e não puderam impedir que os ônibus fossem depredados e incendiados. Às 21 horas, sem conseguir dispersar a multidão, a tropa recebeu ordem de atirar para o alto. O resultado foram quatro mortos, três à bala, dezenas de feridos e presos. 
Para esvaziar o centro, a prefeitura colocou caminhões da Cia. Mogiana, do Departamento de Águas e Esgoto (DAE) e do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) para transportar as pessoas gratuitamente. 
Autoridades. Somente às 21 horas, quando o movimento tinha dominado a cidade, as autoridades se reuniram no Palácio dos Campos Elísios. No encontro estavam o governador Carvalho Pinto, Quintanilha Ribeiro, chefe da casa civil e o secretário da Justiça, Pedroso Horta. Na saída do encontro, em entrevista à TV, Horta justificou o aumento lembrando que uma das promessas de campanha de Adhemar de Barros era sanear as contas da CMTC. E uma dessas medidas seria o aumento das tarifas. 
No dia seguinte, as paralisações e a repressão policial continuaram. Dessa vez foi na porta do Palácio Prates, antiga sede da Câmara dos Deputados no Parque D. Pedro II. Os manifestantes foram lá pedir que as tarifas fossem reduzidas. O vereador Monteiro de Carvalho subiu na capota de um carro e explicou que a questão das tarifas era da competência da prefeitura. A multidão foi dispersada por volta da 19 horas “a golpes de casse-tête” como publicou o Estado do dia 1 de novembro.  


Sucateamento. A CMTC com 12 mil funcionários em crise financeira estava sucateadas e não renovava a frota e nem conseguia importar peças e acessórios para os ônibus quebrados. Em, 1957 da frota de 1.333 ônibus diesel, somente 821 funcionavam. A empresa também tinha 110 ônibus elétricos e 210 bondes que ainda não tinham sido tirados de circulação por causa da incapacidade de substituir a frota.
1957
2013


233 linhas
(
ônibus, trólebus e bondes)


1.321 linhas 

1.653 veículos
(1.333 ônibus - somente 821 funcionando;
110 ônibus elétricos; 
210 bondes)

15.025 veículos

52 milhões

passageiros/mês

(a
bril de 1957)

944.939.722passageiros/mês
(abril 2013)

622 milhões
pasageiros/ano
(1957)


2.916.954.960passageiros/ano
(2012)

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